A sociedade brasileira vem vivendo décadas de baixo crescimento econômico, com grandes dificuldades de atrair investimentos produtivos, que poderiam proporcionar novas oportunidades de geração de empregos e a melhora das condições sociais, além da diminuição das desigualdades e poderiam contribuir para a redução das disparidades sociais e amainar os conflitos distributivos que assolam a sociedade.
Neste cenário, o assunto do momento da sociedade e da mídia corporativa é a taxa de juros da economia brasileira, uma das maiores do mundo, com impactos significativos para a atividade econômica, inviabilizando o investimento produtivo e estimulando as aplicações financeiros e garantindo ganhos substanciais para os rentistas, aumentando seus rendimentos e abarrotando os lucros e dividendos, com isenções tributárias e alegrando uma orla de endinheirados e, ao mesmo tempo, aumentando o conflito distributivo.
Ao falarmos sobre as taxas de juros, estamos nos referindo a Selic, Serviço Especial de Liquidação e Custódia, definida pelo Banco Central e que impacta fortemente sobre as atividades econômicas, as aplicações financeiras e as estruturas produtivas, além de definirmos a geração de empregos, a renda dos trabalhadores, o endividamento dos agentes econômicos e contribuindo para a definirmos os horizontes da economia nacional.
No patamar elevado da taxa de juros definida pela Autoridade Monetária, estamos caminhando rapidamente a uma forte recessão. Conjunturalmente, percebemos que os estímulos fiscais do governo anterior perderam força, os investimentos produtivos estão sendo reduzidos, as taxas de juros elevadas estão desestimulando o crescimento econômico e, em contrapartida, as aplicações financeiras estão ganhando espaço, aumentando os ganhos dos poupadores e rentistas, inviabilizando os projetos econômicos e postergando a recuperação dos setores produtivos.
O debate está acalorado, de um lado os defensores da Autoridade Monetária acreditam que só com taxas elevadas de juros devem reduzir os preços e conter o dinamismo inflacionário. De outro lado, os críticos acreditam que as taxas de juros devem jogar a economia nacional numa recessão, piorando as contas públicas e seus impactos sobre as atividades são elevadas, gerando mais desemprego, queda acelerada da renda e maior endividamento das famílias, travando uma perspectiva de retomada do crescimento econômico.
Ao falarmos sobre o custo do capital no Brasil, precisamos destacar que temos juros insanos pouco vistos em outras nações, estamos convivendo, a muitas décadas, com juros de cheque especial em mais de 300% ao ano, taxas de juros de cartão de crédito em mais de 400%, empréstimos pessoais com taxas proibitivas, garantindo ganhos substanciais para os bancos e financeiras, aumentando o poder do mercado financeiro, capturando o Banco Central e defendendo seus interesses em detrimento da população.
Com taxas de juros neste patamar, estamos naturalizando uma degradação econômica que persiste desde a redemocratização, que contribuíram para a estagnação econômica do país e para o incremento das desigualdades, fazendo com que o Brasil seja visto como uma das economias mais desiguais do mundo, inviabilizando investimentos produtivos e alavancando o rentismo, levando variados setores industriais para trocar suas atividades produtivas tradicionais por negócios financeiros, abrindo instituições bancárias, garantindo ganhos estrondosos, aumentando seus ganhos imediatos e contribuindo para uma degradação econômica e piorando as condições sociais, com incremento do desemprego, reduzindo a renda agregada, aumentando a vulnerabilidade social e os conflitos políticos.
Neste momento de recuperação econômica precisamos rediscutir questões estratégicas para a sociedade, repensar os spreads bancários, taxar grandes fortunas, rever isenções fiscais e tributárias indiscriminadas, repensar privatizações sem transparências, reduzir as taxas de juros que servem apenas para engordar rentistas e financistas. Sem políticas consistentes, urgentes e corajosas continuaremos nesta degradação social.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 22/02/2023.