Dificuldades Futuras

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Depois de uma eleição presidencial bastante competitiva, marcada por grandes conflitos políticos, agressividades crescentes, fartas acusações de corrupção e embates morais, onde as redes sociais impulsionaram confrontos, violências materiais e imateriais, preconceitos generalizados, mentiras e desconstrução de reputação dos adversários, desconhecimento da realidade social, limitações econômicas, batalhas jurídicas, deixando claro os preconceitos maciços que pouco contribuem para compreender e melhorar a realidade da comunidade, mostrando a incapacidade dos atores políticos a vislumbrarem resoluções para os grandes desequilíbrios da sociedade brasileira.

Os anos vindouros da sociedade brasileira são centrados em desafios conjunturais e estruturais, uma sociedade que pode ser vista como um dos grandes celeiros do mundo, responsável por parte considerável dos alimentos produzidos e comercializados na comunidade internacional e, ao mesmo tempo, encontramos milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, pessoas passando fome, sobrevivendo nas invisibilidades, sem cidadania, sem dignidade, vivendo no medo e na insegurança, contribuindo para um caos generalizado, alimentando o ódio e o ressentimento.

Vivemos num mundo centrado na ciência, no conhecimento e na tecnologia, responsáveis por grandes alterações nos modelos de negócios e na sobrevivência cotidiana das organizações. As nações que ganharam relevância na comunidade internacional foram aquelas que buscaram seu desenvolvimento autônomo e soberano, com fortes investimentos em capital humano, estimulando o comércio exterior, fortalecendo o sistema financeiro nacional, garantindo investimentos com taxas de juros reduzidas, protegendo setores estratégicos, patrocinando tributação progressiva e reduzindo isenções fiscais sem contrapartidas para a comunidade.

Um dos setores mais dinâmicos e estratégicos para a sociedade brasileira é o setor da saúde, nos próximos anos precisamos reconstruir essa indústria, reduzindo a dependência das importações que oneram a balança comercial e reduzem a soberania nacional. Precisamos repensar a nação, capacitando e organizando o Estado Nacional, fortalecendo o Sistema Único de Saúde (SUS), reconstruindo a indústria da saúde, estimulando setores nacionais, absorvendo mão de obra capacitada, adquirindo produtos nacionais e exigindo melhoras de produtividade e incrementando um verdadeiro salto tecnológico, precisamos passar de importador de produtos médicos e hospitalares e se consolidando como exportador deste mercado altamente tecnológico e dotado de forte potencial de desenvolvimento econômico.

O capitalismo contemporâneo, centrado na concorrência e na competição, marcados por oligopólios e fortes subsídios para os grandes capitalistas é responsável por altos ganhos tecnológicos que moldam a sociedade, transformando o mundo do trabalho, gerando alguns bilionários e um exército interminável de miseráveis, além de criar grandes incertezas, medos, depressões e instabilidades. Ao acrescentarmos as guerras, os conflitos militares e a degradação do meio ambiente, precisamos repensar valores que estão sendo destruídos, exigindo novas políticas de conservação da biodiversidade, estimulando a economia verde, fortalecendo a economia circular, fomentando a economia criativa cujos potenciais são astronômicos, garantindo a respeitabilidade internacional, angariando recursos mundiais e deixando de sermos um pária internacional.

Devemos reconstruir políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, estas políticas devem incentivar a participação da população, aprofundando a cidadania, garantindo que todos os setores da comunidade participem ativamente nas decisões, entendendo a importância destas políticas para garantirem direitos humanos fundamentais, consolidando oportunidades e espaços de cidadania, sem esta reflexão o indivíduo comum continuará vivendo como o saudoso jornalista Gilberto Dimenstein chamou de “cidadão de papel”, onde o sociedade brinca de cidadania, brinca de democracia, brinca de meritocracia, brinca de empreendedorismo, brincando que ainda somos o país do futuro e vivemos sempre próximos na indignidade, se aproximando do caos, garantindo benefícios para poucos e miséria para uma grande maioria e acreditando, perpetuamente, que o brasileiro é um “homem cordial”.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Brasileira Contemporânea, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 09/11/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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