A primeira década do século XXI foi marcada por muitas surpresas interessantes na sociedade brasileira, dentre elas, destacamos a ascensão do Partido dos trabalhadores (PT) à Presidência da República, depois de inúmeras tentativas frustradas finalmente um governo dito, democrático e popular, assume o comanda da sociedade brasileira e mais, um retirante, sem instrução formal, é eleito em voto direto para o cargo mais importante do país.
O governo Lula se caracteriza por mudanças e movimentos bastante interessantes para o país, mas é importante destacar que no período de oito anos, encontramos dois governos diferentes, um mais conservador e ortodoxo, marcado por uma política econômica restritiva e outro mais desenvolvimentista, caracterizado por uma política econômica mais expansionista, com gastos públicos crescentes e investimentos estatais como catalisadores do incremento econômico.
No período 2007/2010, a marca do governo foi uma política fiscal mais frouxa, onde os gastos públicos cresceram como forma de estimular a economia e a melhora dos indicadores sociais, inicialmente uma forma de melhorar as condições políticas fragilizadas pelo escândalo do mensalão, que gerou graves constrangimentos para o governo nos dois anos anteriores e, principalmente, no período da eleição presidencial.
O ano de 2008 é marcado pela crise internacional, que deflagrada nos Estados Unidos contamina várias regiões do mundo, o mercado imobiliário, centro irradiador da crise, entra em colapso, levando as finanças mundiais a uma crise de dimensões assustadoras, gerando perdas financeiras imensas, quedas nas bolsas, desemprego crescente e redução da renda agregada, diante do colapso, a instabilidade aumenta, os capitais fogem dos países periféricos, gerando uma desvalorização cambial e um incremento nas dívidas e compromissos financeiros, obrigando-os a ajustes recessivos e cortes de gastos e investimentos públicos.
Neste clima de insegurança e incertezas, o Brasil sente de forma indireta esta crise, somos um dos últimos países a entrar na crise e vamos nos caracterizar por sermos um dos primeiros a sair desta instabilidade, mas para isso, as atitudes do governo foram bastante importantes, é justamente neste momento que o presidente Lula se mostrou por completo, assumiu riscos, fez apostas arriscadas e apostou na recuperação da economia, mas para isso direcionou todos os instrumentos disponíveis de política econômica para impedir que a economia brasileira sentisse a crise e entrasse, como várias outras, em recessão ou em processo de estagnação.
Com a redução do crédito, medida adotada pelas instituições privadas, o governo estimula a população às compras, deixando claro para todos os cidadãos que se cada indivíduo deixar de comprar, a economia vai deixar de produzir, os investimentos serão reduzidos, os empregos e a renda estarão ameaçados, gerando recessão, incertezas e distúrbios sócio-econômicos. Para viabilizar o consumo desta população, o governo canaliza todas as suas instituições financeiras (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES) para suprir a contração dos recursos privados, que amedrontados pela crise adotam uma política agressiva e prejudicial aos interesses nacionais.
O Banco do Brasil aumentou seus empréstimos para impedir que a economia entrasse em recessão, recursos são disponibilizados para impedir a contração das atividades produtivas, as carteiras de crédito de banco menores são adquiridas como forma de evitar a redução da oferta de recursos, neste momento, destacamos a compra pelo Banco do Brasil de quase 50% do Banco Votorantim, uma instituição pertencente a um grupo tradicional do país, mas que acumulou grande prejuízo no setor industrial, optando pela venda parcial de sua financeira.
A Caixa Econômica Federal atuou diretamente neste período, seus recursos foram direcionados para dinamizar a construção civil, estimulando com isso, que programas de forte apelo social, como o Minha Casa Minha Vida, criados pelo governo federal não naufragássem, já que se isso acontecessem inúmeros setores seriam afetados e a recuperação da economia se alastraria por muitos e muitos meses, com graves constrangimentos sociais e políticos.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou seus empréstimos, obrigando o governo a uma mega capitalização da instituição, aumentando com isso, a dívida pública, mas estimulando as empresas e os setores produtivos a manterem seus investimentos, gerando um crescimento econômico e impedindo que as empresas parassem sua expansão nacional e internacionalmente.
Todas estas políticas foram adotadas concomitantemente, mas é importante destacar ainda a desoneração tributária, solicitação antigas da sociedade, o governo implementou uma redução das alíquotas do imposto sobre produtos industrializados (IPI), esta medida aumentou as compras de veículos novos, dinamizando as montadoras e todos os setores atrelados, gerando um movimento de bilhões de reais e evitando um colapso generalizado na estrutura produtiva.
Gostaria de ressaltar ainda, que no momento mais incerto da crise, alguns bancos nacionais e estrangeiros adotaram uma política lamentável e oportunista, instituições espanholas, inglesas e até nacionais, no auge das turbulências reduziram o crédito interno, compraram dólares e os retiraram do país, gerando uma desvalorização cambial e impactando sobre o setor externo da economia, mas o pior é que se mostraram efetivamente para a sociedade nacional, no discurso apóiam o país, mas na hora da crise apostaram contra o país, algo deplorável que não se deve esquecer, mas se tomar como exemplo e direcionar políticas e estratégias futuras para o bem de todos.
Os efeitos colaterais são nítidos, o Estado depois desta gastança generalizada viu sua dívida pública crescer de forma acelerada, pressionando o Tesouro Nacional e gerando sinais evidentes de instabilidade e incerteza, obrigando o governo a diminuir os incentivos, reduzindo as atividades econômicas e aumentando as taxas de juros sob pena de ver os indicadores inflacionários em descontrole e em crescimento.
As políticas adotadas no governo Lula foram muito exitosas, a economia encontrou seu equilíbrio rapidamente, o planejamento e a atuação direta do Estado foram cruciais para impedir que a economia mergulhasse em um ambiente recessivo como muitos países mergulharam e, muitos deles não conseguiram sair e se recuperar, condenando a população a um cenário de instabilidade, medos e degradação sócio-econômica, com graves custos materiais, emocionais e produtivos, pela primeira vez o país não seguiu este caminho, anteriormente a população tinha sido onerada pela crise, mas nesta fomos agraciados com políticas efetivas, pragmáticas e estratégicas, cujos resultados diferiram de momentos anteriores, um sinal claro de maturidade e crescimento da população.