Degradação crescente

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Vivemos uma verdadeira tempestade perfeita, um momento de grandes incertezas e instabilidades econômicas, sociais e políticas. A desestruturação do tecido social é visível e seus impactos estão sendo sentidos por todos os grupos da comunidade, neste ambiente acumulamos pandemia, inflação, guerra, lockdown na China, fome, inseguranças e eleições, neste ambiente percebemos a ausência de lideranças, sem projetos nacionais e discussões desnecessárias, neste cenário estamos flertando com o caos e a desesperança.

Neste ambiente de incertezas, percebemos que somos bombardeados por notícias de fechamento de grandes empresas, demitindo milhares de funcionários, reduzindo a capacidade industrial, diminuindo a arrecadação e criando novos bolsões de miséria e de destruição, que exigem dos governos atuações imediatas e planejadas, capacitando os trabalhadores e criando as infraestruturas necessárias para estimular investimentos produtivos. Ao postergarmos as reações governamentais denota a incapacidade de pensarmos a complexidade das estruturas produtivas e de nos anteciparmos aos desafios que estão se arvorando na sociedade contemporânea.

Nos últimos anos percebemos o crescimento da degradação social, a pobreza cresce de forma acelerada, a insegurança alimentar aumenta, a violência apresenta grande incremento, os discursos de ódio crescem, as redes sociais se transformaram em um verdadeiro faroeste de linchamentos morais, de xingamentos crescentes e destruição de reputações e estimulando as incertezas e desesperanças, diante disso, as perspectivas econômicas, políticas e sociais são preocupantes, exigindo uma atuação mais imediata dos governos, com planejamento, novas estratégias e políticas públicas efetivas para reverter a situação. Neste quadro de incertezas e instabilidades, caminhamos a passos largos para conflitos generalizados, violências crescentes e desajustes institucionais, com impactos preocupantes.

O descontrole dos preços impacta sobre a comunidade, o aumento dos preços desmotiva setores inteiros, impondo a motoristas de aplicativos a repensarem suas estratégias, além de levar muitos caminhoneiros a abandonarem a boleia de seus caminhões, engrossando as fileiras de desempregados, desalentados e trabalhadores na informalidade, sem proteção social, sem aposentadorias decente e sem esperanças. Além disso e, principalmente, a inflação degrada a renda da população, corrói os salários, desestrutura os orçamentos, aumenta o endividamento e castiga os trabalhadores e os levam a condições indignas de sobrevivência, levando as famílias a degradação, aumentando as incertezas e as ansiedades que, em muitos casos culminam em depressão, suicídios e patologias sociais atreladas a uma sociedade patologicamente doente que cultiva a beleza externa e esconde a degradação mais íntima.

As guerras que crescem na sociedade nos mostram a indignidade moral cultivada pela comunidade internacional, neste momento percebemos a hipocrisia que crassa o mundo contemporâneo, nos revoltamos com as degradações criadas pelos conflitos bélicos, os bombardeios e as destruições que nos é mostrada todos os dias pelos meios de comunicação e nos esquecemos de nossas guerras íntimas, as violências mais imediatas que perpassam o cotidiano de toda a coletividade, as violências que cultivamos na exploração da mão de obra, da marginalidade que alimentamos e que degrada a remuneração dos trabalhadores e impedem a capacidade de sonhar e imaginar uma sociedade mais digna e decente para todos os nossos concidadãos.

A indignação cresce na sociedade brasileira, a degradação social aumenta e a política se transformou num espaço de acumulação e status social, indivíduos despreparados se aventuram na busca de holofotes e ganhos monetários. A indústria que já chegou a quase 30% do produto interno bruto, agora amarga apenas 10%, vivendo de migalhas das grandes economias mundiais. A nação que sempre foi vista como o país do futuro, como disse Stefan Zweig, caminha para a degradação econômica, social, política e ambiental.

Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Comportamental (Unyleya), Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 11/05/2022.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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