A economia internacional passa por grandes instabilidades e incertezas que tendem a gerar uma recessão com impactos desconhecidos, além da pandemia que degradou as cadeias globais de produção, aumentou os preços relativos e espalhou a inflação para todas as nações, degradando a renda e o salário dos trabalhadores, além disso, a guerra na Ucrânia está acelerando a degradação da economia global, aumentando as incertezas que podem culminar em um caos financeiro, desemprego em ascensão, destruição de empresas e de grandes conglomerados financeiros .
Neste ambiente, precisamos repensar políticas inócuas, fortalecendo as cadeias produtivas locais, integrando os setores estratégicos, renovando políticas energéticas limpas, recuperando o meio ambiente e construindo novos conceitos de sustentabilidade, combatendo setores econômicos degradantes, consolidando os investimentos produtivos e reconstruindo a noção de planejamento econômico. Momentos como este percebemos a importância da elite pensante que gerencia a nação, estes setores são fundamentais para repensarmos o crescimento econômico, abandonando discussões desnecessárias e vislumbrando um país melhor, mais sustentável e dotado de perspectivas melhores.
Neste momento percebemos que somos imensamente dependentes de setores internacionais, somos grandes produtores de produtos agrícolas, não definimos os preços das mercadorias que vendemos e somos vistos como um dos celeiros do mundo e, ao mesmo tempo, deixamos de produzir produtos fundamentais para angariar forças produtivas e diminuir nossa dependência externa. Precisamos de fertilizantes, máquinas, equipamentos e adubos que adquirimos externamente, dependemos de chips produzidos nos ambientes externos, dependemos de tecnologias que adquirimos globalmente e somos dependentes dos grandes produtores globais e pior, acreditamos que estamos no caminho certo.
Ganhamos grandes somas de recursos para adquirir produtos de luxo, mercadorias caríssimas para ostentar suas riquezas e, penalizamos o mercado interno com lucros elevados para os acionistas externos em detrimento da população, que empobrece a olhos vistos e se distancia do tão sonhado desenvolvimento econômico, aquele desenvolvimento que se caracteriza pela melhora das condições de vida da população, será que estamos na hora de repensarmos nosso futuro?
As crises são momentos de repensarmos as escolhas, neste momento devemos construir uma estratégia de desenvolvimento econômico, investindo nas capacidades construídas anteriormente, aproximando as universidades dos centros de pesquisa e dos setores produtivos, estimulando a reconstrução do complexo da saúde integrado as demandas do Sistema Único da Saúde. Além de valorizar órgãos públicos e privados que contribuem para o crescimento da economia, deixando de lado setores que falam constantemente das ineficiências estatais e são verdadeiros chupins que sobrevivem de incentivos e subsídios que garantem mais de 350 bilhões de reais anualmente, sem critérios, sem transparência e sem contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
O mundo globalizado é marcado por grande concorrência, a competição é global e prescinde de estratégias claras de sobrevivência, a guerra em curso mostra a importância de repensarmos o modelo de inserção na economia global. Precisamos reconstruir estruturas produtivas sólidas e consistentes, necessitamos aproveitar o capital humano desenvolvido no decorrer dos anos, garantindo empregos de qualidade, salários dignos e decentes, garantindo condições decentes de sobrevivência, sem estas transformações estruturais o sonho do desenvolvimento estará cada vez mais distante e a indignidade da população estará mais presente no cotidiano da população nacional.
A crise gerada pela guerra demonstra os valores construídos pela comunidade internacional, nestes valores valorizamos o imediatismo dos ganhos materiais, da aparência física, da ostentação, do hedonismo e dos lucros crescentes da especulação financeira. Rememorando Adam Smith, o pai da Economia Política: “A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram“.
Ary Ramos da Silva Júnior, Bacharel em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 09/03/2022.