O ambiente global está cada vez mais agitado e agressivo, de um lado percebemos o aumento das medidas protecionistas, novos subsídios de governos nacionais, a construção de instrumentos de planejamento e de intervenções crescentes nas estruturas econômicas e, ao mesmo tempo, percebemos o aumento dos preços relativos, com impactos inflacionários em todas as regiões, conflitos militares e desestabilizações geopolíticas, impactando toda a comunidade internacional.
Vivemos num momento de grandes instabilidades, medos e ressentimentos crescentes e a ausência de lideranças sensatas e com visão de longo prazo, ao contrário percebemos um excesso de voluntarismos, populismos fiscais e a incapacidade de compreender as dificuldades da sociedade global.
O mundo globalizado construiu uma nova realidade, os avanços científicos e tecnológicos estão moldando uma nova sociedade, a produção não é mais local, mas global. As economias estão todas interconectadas, a produção local viaja para todas as regiões do mundo, suprindo necessidades locais e, neste ambiente, as exigências são variadas e crescentes, exigindo alterações rápidas e imediatas, flexibilidades e agilidades constantes para acompanhar as transformações destas novas tecnologias.
As transformações em curso na sociedade global levaram os países asiáticos ao topo do cenário industrial, levando muitas nações industrializadas a perderem espaço neste cenário de grande competição e concorrência crescentes, criando caos em muitas nações, levando a desindustrialização em muitos países, gerando graves constrangimentos e desestruturação no mercado interno, alastrando o desemprego, aumentando o subemprego e a informalidade das condições de trabalho. A desestruturação produtiva está abrindo espaço para o desenvolvimento da uberização das relações de trabalho, sem direitos, sem perspectivas dignas, com rendimentos aviltantes e marcados pela precarização e pela degradação das condições de vida dos trabalhadores. Neste ambiente, percebemos o incremento de desequilíbrios emocionais, desajustes afetivos, transtornos psicológicos, além do aumento da depressão e do suicídio que crescem vertiginosamente.
A produção globalizada é feita em vários locais, cada região fica responsável por parte da produção, os insumos são importados e montados em algum país que tenha mão de obra barata e abundante, destacamos ainda, que o centro tecnológico dos produtos está concentrado nos países centrais, garantindo lucros elevados, maiores autonomia e soberania num mundo centrado na concorrência e na busca crescente por lucros estratosféricos.
A pandemia e as instabilidades políticas estão gerando grandes incertezas na economia internacional, reduzindo os investimentos produtivos, aumentando os desequilíbrios geopolíticos que culminaram em conflitos militares, com isso, percebemos o incremento dos preços globais, gerando maiores custos produtivos nos setores alimentícios, combustíveis, fertilizantes e energia, levando as nações a repensarem as novas estratégias de inserção da economia mundial. Estamos num momento de grandes incertezas, os desafios são elevados e exigem lideranças altamente capacitadas para compreendermos a situação inédita que a economia internacional está atrasando.
Os exemplos são claros e evidentes, neste momento de caos nas cadeias produtivas, os países estão reconstruindo laços de industrialização, canalizando recursos para aumentar os investimentos produtivos, adotando políticas protecionistas, deslocando trilhões de dólares para garantir a autonomia de suas economias e retomando a sua soberania e o controle sobre seus setores produtivos.
A pandemia colocou em xeque o modelo produtivo global, aumentando a terceirização das atividades produtivas e aumentando a dependência de outras nações, fragilizando os Estados Nacionais e os trabalhadores, contraindo os salários, reduzindo as classes médias e empobrecendo as comunidades locais e contribuindo para o incremento das desigualdades que se caracterizam por todas as nações, gerando instabilidades e incertezas que alimentam as degradações econômicas, passou da hora de repensarmos os modelos econômicos dominantes.
Ary Ramos da Silva Júnior, formado em Ciências Econômicas e Administração, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 02/03/2022.