Eleições no Brasil são a segunda chance para as Big Tech, por Patrícia C. Mello

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Espera-se que tenham aqui a mesma preocupação que tiveram na eleição nos EUA

Patrícia Campos Mello, Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

Folha de São Paulo, 29/01/2022

Até 14 de fevereiro, as plataformas de internet precisam apresentar ao TSE termos de cooperação com detalhes sobre como estão se preparando para a eleição. Considerando que Jair Bolsonaro e seu entorno mantêm a ofensiva para desacreditar o sistema eleitoral, e levando em conta o show de desinformação no pleito de 2018, as empresas deveriam montar operações de guerra para evitar que sejam usadas para manipular a opinião pública.

Espera-se que Twitter, Facebook, YouTube, Google, Instagram, TikTok e WhatsApp tenham com a eleição brasileira o mesmo grau de preocupação que tiveram com a americana.

O Facebook informou que começou a se preparar para a eleição americana de 2020 dois anos antes —e criou regras específicas para aquele pleito e para o alemão. O aplicativo deixou de recomendar a usuários que entrassem em grupos “cívicos”, com alguma conotação política, e restringiu o número de convites que podiam ser enviados por dia.

Facebook e Instagram proibiram anúncios políticos duas semanas antes da eleição —só retomaram em março de 2021.

O Twitter, que já proibira anúncios políticos globalmente em 2019, passou, na campanha americana, a remover tuítes que incitavam a interferir ou contestar o resultado eleitoral. Começou com alertas em tuítes desinformativos de figuras políticas e perfis com mais de 100 mil seguidores e com bloqueios a retuítes e curtidas.

O YouTube –criticado pela lentidão na remoção de vídeos conspiratórios— criou um painel de checagem de informações em resultados de buscas e baniu anúncios políticos (também no Google) por um mês. Mesmo assim, o movimento “Stop the Steal” saiu do controle, culminou na invasão do Capitólio e persiste até hoje.

No Brasil, sabemos muito pouco sobre os planos das plataformas. As empresas têm equipes dedicadas à eleição de 2022? Vão apresentar normas de uso específicas para o pleito? O que vão fazer se um dos candidatos não aceitar o resultado e insuflar apoiadores? Aqui, duas das empresas promovidas por Bolsonaro, Telegram e Gettr, nem sequer cooperam com o TSE.

Não se sabe se Apple e Google terão políticas para aplicativos de candidatos. O aplicativo Bolsonaro TV foi baixado mais de 100 mil vezes na loja do Google, e o do PT, mais de 50 mil.

Segundo Sophie Zhang, ex-funcionária do Facebook que fez denúncias sobre a empresa, a plataforma ignorou tentativas de sabotar eleições em vários países. Ela disse que havia pouca disposição de proteger a democracia em países que não fossem os EUA ou europeus.

A eleição de 2022 é a chance para as Big Tech provarem que aprenderam com eleições passadas e se importam com a democracia no mundo.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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