O mundo do século XXI é marcado por grandes incertezas e instabilidades, a pandemia elevou os desafios, aumentaram os medos e os desequilíbrios emocionais, acelerou as transformações nos modelos de negócio, gerando e alimentando preocupações crescentes, dificuldades de sobrevivência, preocupações de infecção do vírus, a percepção da degradação do meio ambiente, o aumento da miséria e da exclusão social, além das crises econômicas e as novas, cada vez mais elevadas, exigências no mercado de trabalho.
Neste ambiente, as pesquisas nos mostram o incremento dos números de bilionários na sociedade mundial, números que crescem de forma acelerada e convivem com o aumento vertiginoso de pobres e miseráveis, gerando graves constrangimentos em todas as regiões, criando novos desafios para os gestores da sociedade, evitando que os constrangimentos se tornem violências crescentes e abertas dentro das comunidades locais, levando a destruições e custos sociais elevados.
Os novos ares do mundo contemporâneo nos mostram claramente que a sociedade mundial conseguiu aumentar, nos últimos trinta anos, as riquezas da coletividade global, gerando mais riquezas e novos recursos monetários e financeiros. A nova sociedade global gerada pela pandemia desnudou uma situação de degradação crescente entre todos os grupos sociais, pela primeira vez, as riquezas e as pobrezas estão próximas umas das outras.
Anteriormente, o mundo era dividido entre países ricos, dotados de forte crescimento industrial e países pobres, meros produtores de produtos primário de baixo valor agregado com população miserável. Atualmente, encontramos dentro das nações, convivendo ricos e pobres, além do crescimento dos conflitos sociais, desequilíbrios políticos e impactos generalizados.
Neste ambiente, os dados da Oxfam nos mostram números assustadores, nele percebemos que as fortunas das dez pessoas mais ricas do mundo passaram de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão – a uma taxa de US$ 15 mil por segundo, ou US$ 1,3 bilhão por dia – durante os dois primeiros anos da pandemia, com isso, os dados descritos mostram que um novo bilionário surgiu no mundo a cada 26 horas. Num momento de grandes transformações e incertezas geradas pela pandemia, a renda de 99% da humanidade caiu na comparação de março de 2020 e novembro de 2021, contribuindo para a degradação que estamos vivenciando na sociedade internacional.
No Brasil, os dados divulgados pela Oxfam nos mostram preocupações, são 55 bilionários com riqueza total de US$ 175 bilhões, onde desde 2020, quando a pandemia foi declarada, o país ganhou dez novos bilionários. Ao analisar os pormenores, percebemos que enquanto 90% da população teve uma redução de 0,2% entre 2019 e 2021, os bilionários tiveram um incremento da riqueza durante a pandemia em 30%, denotando a degradação da renda da sociedade com impactos sociais na coletividade, levando uma parte mais fragilizada da sociedade a revirar lixos em busca de alimentos e para sobrevivência neste momento de caos, mesmo sabendo que somos um dos maiores produtores de grãos da economia mundial.
Numa sociedade civilizada, o crescimento da riqueza deve ser estimulado e fortalecido, investindo em educação e melhorando o capital humano da coletividade, o grande problema é a dissonância crescente entre o aumento da riqueza, da ostentação e o incremento da pobreza e da miserabilidade da população, denotando uma sociedade que se degrada todos os momentos. A pandemia deixou marcas visíveis da sociedade brasileira, a riqueza deve ser estimulada para todos os grupos sociais, mas cabe a mesma sociedade analisar as raízes destas riquezas, muitas delas foram construídas em cima da corrupção, da evasão, da exploração e da sonegação.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Administrador, Especialista em Economia Criativa, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 26/01/2022.