Perspectivas econômicas

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Mais um ano está chegando ao final. Depois de imensos desafios e oportunidades gerados pelo incremento da pandemia, os números assustadores de mortes em decorrência da covid-19, o crescimento da inflação e os desajustes das cadeias produtivas nacionais e internacionais, a economia brasileira sente os sinais claros do baixo crescimento econômico, dos reduzidos investimentos produtivos, da queda da renda, do incremento da pobreza, de indicadores sociais sofríveis e dos conflitos políticos que se aceleram continuamente, as perspectivas econômicas para o comportamento da estrutura produtiva são pouco agradáveis.
Os indicadores de emprego são assustadores, temos na atualidade quase cinquenta milhões de trabalhadores em situação de degradação laboral, neste ambiente, percebemos desempregados, subempregados, desalentados e um grande contingente de trabalhadores na informalidade. Neste ambiente, a massa de renda se reduz, o consumo está em queda, os investimentos produtivos não se recuperam, postergando a recuperação da economia e piorando, os já degradados, indicadores sociais.

O crescimento dos preços diminui o poder de compra da população, reduz a renda agregada, contraindo os salários, levando o governo ao aumento nas taxas de juros, piorando as expectativas econômicas e seus impactos são imediatos. Os investimentos produtivos se reduzem, a economia se retrai e se aproxima da recessão, postergando o incremento da esperança e degradando as condições sociais e as instabilidades políticas. No momento que escrevo, a perspectiva do chamado mercado é de um crescimento de 0,5% do produto interno bruto, se estes valores se efetivarem a renda per capita se reduz mais uma vez, tornando a população cada vez mais pobre e os indicadores econômicos mais tenebrosos.

No cenário fiscal as condições são preocupantes, impactando sobre os investidores externos que fogem da economia brasileira, atraindo apenas os investimentos de riscos, que buscam altas rentabilidades, taxas de juros atraentes e ganhos elevados, com isso, o país entra na rota dos grandes especuladores internacionais, garantindo retornos altos e, em contrapartida, percebemos a destruição dos setores produtivos nacionais. O resultado evidente deste cenário, é o incremento da desindustrialização da economia brasileira, um setor que já representou quase 30% do produto interno bruto e, na atualidade, apresenta apenas 10%, gerando empregos de baixo valor agregado, salários baixos, reduzindo consumo e queda brutal na renda dos trabalhadores.

Os desafios econômicos são elevados e exigem consensos políticos fundamentais, os grupos econômicos, financeiros e políticos mais relevantes precisam construir novas perspectivas para o futuro imediato. A construção, ou reconstrução, exige visão estratégica, planejamento econômico, mão de obra capacitada, investimentos em ciência e tecnologia, estratégias geopolíticas consistentes, deixando de lado interesses imediatos e ganhos corporativos, unindo forças entre todos os atores da comunidade. Sem esta unidade, sem a integração entre Estado e Mercado, o país se aproximará, novamente, de uma nova década perdida, com altos custos sociais que perduram durante muitas décadas e se aprofundou nos últimos quarentas anos, quando os países desenvolvidos inauguraram a chamada terceira e, posterior, revolução industrial e no Brasil, ainda nos perdemos em algum momento da segunda revolução industrial, levando o país a um retrocesso enorme, com perda de relevância na economia internacional, atrasos institucionais e dificuldades de competir no, cada vez mais, competitivo mercado global.

O próximo ano nos trará desafios conhecidos por todos os estudiosos da sociedade brasileira. Os desafios brasileiros não são novos, são conhecidos por todos os cidadãos, os desafios são econômicos, são políticos e são sociais cuja superação exige, antes de mais nada, união, solidariedade, liderança, autonomia e esperança. Conceitos fundamentais que não conseguimos construir neste ano que estamos deixando para trás.

Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Administrador, Mestre, Doutor em Sociologia e Professor Universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno Economia, 29/12/2021.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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