A economia brasileira vem passando por grandes processos de desestruturação econômica e produtiva, com impactos sobre setores inteiros, impulsionando a degradação da economia, aumentando o desemprego, elevando os preços e reduzindo a renda dos trabalhadores. Para piorar o ambiente, passamos por um momento de desajuste nos preços, desvalorização cambial, fragilidades fiscais e perda da confiabilidade externa, gerando um cenário que os economistas podem definir como estagflação.
Podemos definir a estagflação como uma situação simultânea de estagnação econômica, ou seja, ou até mesmo recessão, apresentando altas taxas de inflação. Neste momento, a atuação das autoridades econômicas exige maturidade e atuação sistemática, utilizando todos os instrumentos da política econômica, como forma de reverter uma situação negativa e preocupante para o comportamento da economia, com desemprego em alta, queda da renda e fragilidade dos indicadores macroeconômicos.
O ambiente econômico gera preocupação, o crescimento da inflação levou o governo a aumentar as taxas de juros e os investimentos produtivos estão em queda, inviabilizando a contratação de trabalhadores, postergando a recuperação econômica e, num momento de pandemia, com mais de seiscentos mil mortos, fragilizando os indicadores sociais, aumentando as tensões sociais e reduzindo a confiança dos setores produtivos.
O aumento da austeridade degrada mais o ambiente social, empobrecendo a massa da população e aumentando a degradação social, elevando a fome, a pobreza e a miséria. A elevação das taxas de juros aumenta a dívida pública, cada ponto percentual de aumento nas taxas de juros elevam a dívida do Estado em 50 bilhões de reais, com isso, o custo total da elevação da conta de juros alcançará valores aproximados de 400 bilhões de reais, recursos que beneficiam uma pequena parte da população, um contingente de 1% dos brasileiros em detrimento da grande maioria da sociedade, dessa forma, percebemos uma forma crescente da pilhagem dos recursos da sociedade para fins privados.
O incremento dos preços na sociedade brasileira está intimamente ligado as desvalorizações cambiais, as desarticulações das cadeias globais de produção e da elevação dos preços dos alimentos e a forte demanda por produtos agrícolas no mercado global. A desvalorização cambial impacta nos preços internos e eleva a inflação, a estabilização do câmbio exige uma atuação conjunta do governo, a construção de uma confiabilidade perdida e uma organização da agenda econômica que, infelizmente, apresenta grandes instabilidades e incertezas que fazem com que a moeda nacional perca espaço no mercado internacional e aumente os riscos para os investidores externos.
A agenda liberal preconizada pela equipe econômica, confusa e marcada por improvisações, gera instabilidade, reduz a confiança e afasta os investidores internos e externos. Estamos presenciando a retirada do Estado da condução da economia brasileira e sua substituição pelos atores privados, diante disso, percebemos que os investimentos não estão acontecendo, com isso, não estamos percebendo os supostos benefícios propagados pela propaganda oficial, muito pelo contrário, essas contribuíram apenas para a degradação do trabalho, gerando aumento no desemprego e no subemprego, redução dos investimentos públicos e privados, diminuição dos recursos da educação e da saúde pública, contribuindo para que o país retorne ao mapa da fome e da degradação social.
Os países desenvolvidos estão aumentando os investimentos produtivos e incrementando a atuação dos atores públicos, reestruturando as políticas industriais e o aumento dos investimentos em infraestrutura e na formação de capital humano, infelizmente, em terras brasileiras ainda estamos insistindo em discussões imaturas e limitadas entre Estado e Mercado, onde a combinação destes atores é o caminho mais apropriado para o crescimento econômico, a melhoria das condições sociais e a constituição da soberania nacional.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no jornal Diário da Região, Caderno Economia, 10/11/2021.