Numa sociedade marcada por grandes transformações tecnológicas, percebemos que as alterações recentes estão gerando grandes oportunidades e desafios, neste ambiente, os investimentos em ciência e tecnologia ganham espaços nas economias como forma de melhorar os indicadores sociais e o bem-estar da coletividade. Os investimentos em ciência e tecnologia são cruciais para aumentar a autonomia e a soberania nacionais, num momento de conflitos geopolíticos, econômicos e financeiros.
Ao analisar os países desenvolvidos percebemos fortes investimentos pregressos em capital humano, pesquisa, ciência e tecnologia, melhorando as estruturas produtivas, aumentando a produtividade e incrementando o bem-estar da população. Os países subdesenvolvidos ou periféricos, carecem de investimentos em capital humano, com isso, constroem sociedades atrasadas socialmente e frágeis estruturas econômicas, perpetuando atraso e degradações.
Os investimentos em ciência e tecnologia, centrados em inovação exigem a construção de consensos sociais e políticos, colocando os investimentos produtivos, tanto público quanto privado, em ascensão, estimulando a produção científica das universidades, das faculdades e dos centros de pesquisas, agentes centrais do desenvolvimento de novas tecnologias, contribuindo para a capacitação dos setores produtivos para a competição da contemporaneidade.
Os países que se desenvolveram economicamente conseguiram alçar novos degraus tecnológicos, construíram sólidos espaços de inovação e fortes instrumentos de fomento a ciência e a tecnologia, onde destacamos os países asiáticos, que conseguiram angariar novas posições na concorrência global, construindo indústrias de ponta e desenvolveram novos modelos de negócios que revolucionaram o cenário global, levando estes países para o centro das inovações globais.
As inovações foram motivadas por fortes e consistentes projetos nacionais, centrados em planejamento, com políticas efetivas de inovação, cobranças por retornos no longo prazo, financiamento fartos e taxas de juros baixas, compras governamentais, proteção de setores estratégicos e fortes investimentos em educação, desde as tenras idades até as universidades, construindo centros de pesquisas e laboratórios de inovação e de empreendedorismo, criando um ambiente de cooperação entre os setores privados e os órgãos governamentais.
Os investimentos em educação geram grandes retornos econômicos e sociais para a coletividade, exigindo um direcionamento da sociedade para a construção de setores produtivos dinâmicos, eficientes e flexíveis, garantindo a atração de profissionais de alta qualificação, garantindo salários elevados e estímulos crescentes para o mercado consumidor.
Sabemos que os investimentos em inovação são altamente arriscados e são marcados por grandes riscos. Os recursos são vultosos e as perdas são imensas, os países que conseguiram construir grandes setores produtivos tiveram altas perdas na caminhada, mas conseguiram construir novos empreendedores, novos modelos de negócios e lucros extraordinários. Uma das empresas mais admiradas da sociedade global, a norte-americana Apple, foi construída não apenas pela genialidade de seu criador, mas contou por investimentos vultosos do governo dos Estados Unidos, além de pesquisas desenvolvidas pelas forças armadas e pelos órgãos de pesquisas oficiais. Diante disso, percebemos que a inovação é um investimento de longo prazo, cujos recursos iniciais foram iniciados pelos governos nacionais, sem estes, estas tecnologias dificilmente existiriam.
Na contramão dos países desenvolvidos, que construíram uma ampla discussão política entre os atores econômicos e produtivos, o Brasil materializa seu atraso no ranking internacional da educação, das ciências e das tecnologias. Na ausência de estratégias claras e eficientes, sem planejamento e coordenação do Estado Nacional, estamos condenando o futuro do país a ser uma economia exportadora de produtos agrícolas e extrativos de baixo valor agregado. Estamos rifando o futuro do país e perpetuando a subserviência econômica e política de outras nações que, anteriormente, conseguiram investir em inovação e passaram a dominar as cadeias globais de tecnologia.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno de Economia, 18/08/2021.