Remunerações especiais

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É sabido por todos que o processo de remuneração é bastante diferente quando comparamos o mundo material com o mundo espiritual, ambos apresentam instrumentos bastante diferentes e conflitantes, que mostram como as sociedades se apresentam em graus e estágios de evolução diferentes, uns primando pelos valores do imediatismo e do material, enquanto outros se mostram mais atrelados a valores sublimes e espiritualizados, uma boa forma de identificarmos o quanto temos que evoluir é que, todos que nos encontramos no meio físico, estamos muito calcados nos valores da aparência e nas convenções sociais, deixando, de lado, sentimentos e emoções mais sublimes e espiritualizadas.

No mundo material os indivíduos recebem de acordo com sua produtividade, somos impulsionados ao cumprimento de metas cada vez mais irreais que nos obrigam a mergulharmos no trabalho remunerado, ganhamos e somos vistos nesta sociedade por tudo que temos, ou melhor, como vivemos em uma sociedade marcada pela aparência, somos visto como aparentamos ser, por isso estamos constantemente querendo mostrar que somos o que, na verdade, não somos, é o mundo da aparência, do imediatismo e dos prazeres da sensualidade e do dinheiro, que nos prendem a uma sociedade marcada pela ilusão e pela imagem do belo e do novo, mesmo que estes sejam cada vez mais transitórios.

O mundo da matéria nos obriga a estarmos em constante atualização, se não o fizermos estamos condenados ao ostracismo social, ser bem sucedido nesta sociedade é termos um emprego bem remunerado, marcado pelo status e pelo acúmulo de bens materiais, nesta sociedade deixamos de lado aqueles que se entregam aos trabalhos mais simples e pouco remunerados, vendo-os como seres humanos menores, sem glamour e sem condições de inserção neste mundo marcado pelo poder de compra, onde a acumulação do poderio financeiro se transformou no objetivo de vida de muitos indivíduos, que se entregam ao trabalho remunerado como se este fosse seu único intuito na vida, deixando de lado outros setores e atividades tão importantes quanto o trabalho material, onde podemos destacar o trabalho espiritual e dos momentos sublimes de convivência com os familiares e com os grupos de amigos, numa troca constante de experiências e valores, fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento do espírito.

O bônus-hora nos foi revelado por André Luiz, quando da publicação da obra Nosso Lar, um dos mais importantes livros publicados pela lavra de Francisco Cândido Xavier, por este instrumento passamos a compreender como se remunera os trabalhos na colônia espiritual, onde cada pessoa recebe de acordo com os trabalhos desempenhados, uns acumulam com as visitas assistenciais, outros se destacam na limpeza, alguns espíritos são responsáveis por questões burocráticas, escolas, hospitais, etc. O trabalho como lei universal existe para todos os indivíduos, querendo trabalhar todos encontram trabalho, recebendo recursos, os chamados bônus-hora, que podemos descrever como um determinado crédito que cada indivíduo tem depois de desempenhar atividades edificantes no plano espiritual, que podem ser utilizados para adquirir uma casa, mas cada pessoa só pode adquirir uma única residência, neste local não é possível comprar mais de uma residência como se faz aqui, quando encontramos pessoas que adquirem várias casas e utilizam-na como instrumento de especulação e acumulação de recursos financeiros e monetários.

Se analisarmos com calma e refletirmos intensamente sobre os dois mundos percebemos que nós, hoje vivendo no mundo material, estamos muito longe dos ensinamentos do mestre Jesus, o dinheiro é utilizado muito mais para satisfazer nossos desejos imediatos, utilizando-o para nossos gozos tresloucados e interesses vis do que para melhorar as condições de vida da população mundial, atualmente encontramos metade da população do globo vivendo com uma renda diária de até US$ 2,00, um mundo onde, segundo a revista Forbes, as quatrocentas famílias mais ricas do mundo possuem um patrimônio de US$ 1,8 trilhão, um número estarrecedor quando visto em perspectiva histórica, ha trinta anos quando a mesma revista começou a mensurar as riquezas das famílias a situação era outra, bem diferente, as mesmas quatrocentas famílias detinham uma renda de US$ 90 bilhões.

O dinheiro tem um papel central na sociedade, nasceu para circular, dinheiro parado causa constrangimentos para todos os setores sociais, em tempos de degradação do meio ambiente, onde o mundo se encontra bastante maltratado por desmandos constantes dos setores mais aquinhoados financeiramente, é impossível dar a cada cidadão mundial uma renda igual a dos Estados Unidos, US$ 50 mil, para que isso acontecesse teríamos que ter outro planeta Terra, agora, é neste momento que precisamos encontrar uma fórmula ética e moralmente aceitável para que todos os cidadãos do mundo tenham uma renda média de US$ 10 mil, atendendo, com isso, suas necessidades básicas de alimentação, educação, saúde, vestuário e acesso aos bens culturais, tão importantes para o desenvolvimento intelectivo dos seres humanos e que, durante tantos séculos, foram omitidos de grande parte da sociedade mundial, deixando-os marginalizados e presos a um universo materializado e centrado nos interesses financeiros mesquinhos.

A relação do ser humano com o dinheiro é sempre algo perturbador e constrangedor, causa de vícios e quedas de muitos espíritos, uma parcela considerável dos espíritos que ora encontramos no orbe terrestre teve sua queda atrelada a questões financeiras ou a sedução da sensualidade, quedas que deixaram rastros terríveis para o ser humano, desastres morais que perturbam suas mentes e sentimentos, tudo isso, obrigando as pessoas a buscarem uma relação nova e diferente com o dinheiro, evitando, com isso, novos desequilíbrios no campo da moral.

A colônia Nosso Lar nos mostra novas formas de remuneração pelo trabalho, este paradigma do mundo dos espíritos pode nos ser muito útil como forma de transformar a relação capital trabalho reinante no mundo material, servindo como um grande desafio para todos os homens e mulheres de bem que buscam o aperfeiçoamento coletivo de nosso planeta, o trabalho é árduo e cheio de entraves, são muitos os indivíduos e instituições que se comprazem com o modelo atual, que ganham com esta forma de remuneração, estes grupos, muito bem organizados e estruturados, vão se utilizar de seus poderes para impedir toda e qualquer mudança que venha, pensam eles, os prejudicar, mas sabemos todos, que quando chega a hora e o momento exato, quando as transformações precisam acontecer, as forças da mudanças passam a ser guiadas por uma mão invisível, que a conduzem para a renovação e para o surgimento de um novo mundo, marcado por uma solidariedade maior e um progresso centrado nos ideais e sentimentos sublimes do Cristo, distante, pode ser, mas o começo desta mudança já teve início, e tomara que nós nos organizemos para fazermos parte desta mudança sob pena de vivermos anos de expurgos, medos e desesperanças.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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