A pandemia está confirmando todas as previsões catastróficas feitas anteriormente pelos especialistas, vivemos num momento de degradação em todas as áreas, culminando no ambiente sombrio de desesperança e de incertezas. Em pleno século XXI, onde as tecnologias comandam a sociedade, aproximam as pessoas e estimulam a comunicação, estamos envoltos em medos, instabilidades e na ausência de empatia, nos sentimos inseguros, amedrontados e carecemos de lideranças e direcionamentos.
Recentemente, o governo divulgou os dados do produto interno bruto do ano passado, uma queda de 4,1%, pior indicador desde o começo dos anos 90, com sérios impactos sobre a sociedade, aumento no desemprego, queda do consumo, redução do investimento produtivo e degradações sociais. Os dados nos mostram que a economia brasileira está devastada, sem capacidade de recuperação, exigindo atuação de todos os agentes econômicos, num verdadeiro acordo entre todos os grupos sociais, deixando as críticas de lado e construindo novos consensos políticos, sem estes os números da degradação tendem a piorar.
A gestão econômica é caótica, os resultados positivos estão sempre adiados, as promessas de emprego não se efetivam, o crescimento do subemprego é patente, as esperanças do empreendedorismo crescem, mas num ambiente de negócio cada vez mais degradado, as esperanças inexistem. Os dados econômicos mostram uma piora em muitos setores produtivos, levando muitas empresas a deixarem o mercado nacional, como grandes conglomerados internacionais que estão de saída, como a Ford, a Sony, a Mercedes e a Audi, aumentando o desemprego, a informalidade e espalhando um caos generalizado.
Os dados divulgados recentemente mostram ainda, que a queda seria mais acentuada se o governo não atuasse mais efetivamente para estabilizar a queda na renda agregada, adotando políticas públicas como o auxílio emergencial, o programa de apoio às pequenas e médias empresas (Pronampe), o programa de preservação de empregos formais e a recuperação da economia internacional, cujos impactos foram positivos. Mais uma vez devemos destacar que, sem políticas públicas efetivas, transparentes e universais, não conseguiremos sair deste imbróglio econômico, social e político.
A pandemia desnudou as condições sociais existentes na sociedade brasileira, a pobreza se mostrou mais nítida e evidente, as limitações econômicas ficaram mais expostas e passou a exigir, de forma estratégica, a reconstrução do tecido industrial. Vivemos um momento de inquietação e incertezas, marcados pelas degradações sanitária e econômica, os investimentos em ciência e em tecnologia são fundamentais e inadiável, como forma de garantir a soberania nacional, reconstruir as bases da indústria nacional, estimulando a cooperação entre os setores produtivos e capacitando os trabalhadores para empregos mais dignos e decentes, dinamizando as demandas internas e incrementando a produtividade da economia.
Precisamos construir um projeto de nação, ressuscitando as ideias de desenvolvimento econômico, observando exemplos exitosos de outras economias, reorganizando os setores produtivos, estimulando os setores mais dinâmicos da economia nacional, reconstruindo os grupos mais vulneráveis da sociedade, investindo em ciência e tecnologia, deixando de lado discursos de curto prazo e construindo novas narrativas contemporâneas. Estamos num momento decisivo, precisamos de sinergias entre todos os setores, capacitando a sociedade para os embates que crescem numa sociedade marcada por instabilidades, inseguranças e incertezas generalizadas.
No momento necessitamos construir confiança e credibilidade, sem estes não teremos investimentos produtivos, gerando as sementes de crescimento da economia e contribuindo para o desenvolvimento econômico. Os indicadores divulgados mostram que, neste momento estamos, sem confiança, sem projeto econômico e sem consenso político, o país ruma rapidamente para o caos, para a degradação econômica e para a convulsão social.
Ary Ramos da Silva Júnior, Economista, Mestre, Doutor em Sociologia e professor universitário. Artigo publicado no Jornal Diário da Região, Caderno de Economia, 10/03/2021.