Individualismos, Neoliberalismo e Sociedade de Consumo

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Desde a Revolução Industrial percebemos o começo de grandes transformações nas bases da sociedade mundial, de uma organização centrada no meio rural e no trabalho doméstico, onde os trabalhadores residiam no meio rural, trabalhavam e sobreviviam nas fazendas em troca nas atividades rurais, para uma nova organização da sociedade centrada nas cidades, nas indústrias, nas relações entre capital e trabalho e, principalmente numa nova relação centrada na acumulação de recursos monetários, centrada no entesouramento de capitais, no controle das atividades produtivas e na busca crescente dos ganhos materiais.

Neste momento, percebemos a consolidação de uma nova sociedade centrada no trabalho assalariado, onde os trabalhadores passam a perceber novos desafios, de um lado, estes indivíduos passam a vender sua única forma de angariar recursos monetários, a venda de sua forma de trabalho em troca de um salário. De outro lado, estes novos trabalhadores passaram a se organizar para sobreviver com as limitações de recursos monetários, ou seja, passam a sobreviver com uma limitação de recursos que anteriormente não eram necessárias, surgindo novos produtos e mercadorias no mercado estimulando o consumo e a ostentação, embora incipiente os germes do mercado de consumo estavam presentes.

Neste momento, percebemos a relação entre capital e trabalho, marcada por grandes conflitos, muito bem analisado pelo sociólogo alemão Karl Marx, que enxerga este momento de grandes conflitos sociais, oriundo de interesses diferentes, cada um dos grupos sociais busca angariar maiores lucros monetários e interesses imediatos.

O capitalismo recebe o impulso da ciência e eleva os cientistas a um novo espaço na sociedade, isto porque, anteriormente os cientistas eram vistas como pessoas estranhas e perturbadas, pessoas esquisitas e viviam fazendo experiências. A revolução industrial elevou os burgueses a se tornar a classe social dominante na sociedade e, ao estimular o crescimento dos cientistas, conseguiu interiorizar os interesses dos capitais, levando muitos trabalhadores a refletirem de acordo com os interesses dos grupos mais favorecidos, criando o conceito de alienação e fortalecendo os interesses e pensamentos da burguesia. Neste momento, percebemos um grupo de trabalhadores que se vendem para ganhar as sobras dos recursos dos grandes donos do dinheiro, estes indivíduos sobrevivem melhores do que os grupos mais fragilizados, mas nunca vão conseguir ascender melhores espaços na estrutura social, permanecerá sempre explorados e humilhados pelos grandes donos dos recursos financeiros.

Nesta época percebemos ainda, a fragilização das religiões, que passam a perder espaços na sociedade em detrimento dos interesses da burguesia centrada no pensamento científico. Além da fragilização das religiões, que sempre se destacou com o estímulo da coletividade, da solidariedade e dos pensamentos cristãos, centrados na humildade, na caridade e na sensibilização social, abrindo espaço para o fortalecimento dos valores centrados na produção, no lucro e no consumo, com isso, percebemos que as mudanças ocorrem lentamente, mas percebemos que os valores cristãos perdem espaço para os valores do capitalismo, dos interesses materiais, do lucro e na acumulação financeira.

Os grandes sociólogos da sociedade internacional passaram a se debruçar sobre os grandes desafios da sociedade, dentre eles destacaram Karl Marx, Weber, Durkheim, Conte, dentre outros, que impulsionaram esta área do conhecimento para buscar a compreensão dos novos desafios para a sociedade, inaugurando uma nova ciência, a Sociologia, a parte da ciência social que estuda os grandes movimentos em curso da sociedade, buscando entender os grandes movimentos da sociedade, dos grupos sociais, do Estado Nacional, dentre outros.

O crescimento do capitalismo gerou grandes transformações para a sociedade, nunca existiu na humanidade um sistema produtivo que criasse mais riqueza do que o capitalismo, gerando novos interesses no estudo deste sistema produtivo. Embora o capitalismo era o sistema econômico descrito como o grande criador de riqueza da sociedade, ele tem um grande vício de origem, o sistema era concentrador de renda e cria novos espaços de miséria e exploração, com isso, as críticas eram crescentes e fortalecia os pensamentos contrários ao sistema capitalismo, surgindo novos modelos econômicos e políticos, onde podemos destacar o Socialismo, ou Comunismo, Anarquismos, dentre outros.

No século XX percebemos o crescimento do capitalismo, encontramos inúmeros sistemas políticos e econômicos, dentre eles, o Nazismo, o fascismo, o comunismo, nestes embates conseguiu se fortalecer a angariar novos espaços decrescimento e consolidação, se expandindo para todas as regiões e se estruturasse como o sistema econômico dominante.

Nos últimos anos, principalmente a partir dos anos 1970, percebemos que o sistema capitalismo se tornou cada vez mais agressivo, desde os governos conservadores de R. Reagan (Estados Unidos) e M. Thatcher (Inglaterra), que inicia uma ampla ofensiva sobre os Estados como agentes de atuação dos desenvolvimentos econômicos, retirando o Estado e aumentando as atuações dos mercados, impulsionando a concorrência, a busca crescente por lucros, a competição entre empresas, governos e indivíduos, gerando uma sociedade fortemente centrada na competição, o individualismo e os interesses imediatos, somamos a um crescimento dos interesses dos setores financeiros, gerando uma sociedade centrada nas incertezas e nas instabilidades, reduzindo os espaços de atuação dos Estados Nacionais como agentes estratégicos e de planejamentos.

Nesta nova sociedade o liberalismo ganha espaço, renomeado como neoliberalismo, que passa a controlar a sociedade e impor os interesses dos setores dominantes, usando seus instrumentos para dominar a sociedade e garantir o controle da sociedade.

Nesta sociedade, percebemos as críticas contidas na citação de Lipovetski, que analisa o crescimento do crescimento na sociedade do consumo, onde os indivíduos passam a ser visto como a sua capacidade de consumir, sua capacidade de recursos, suas rendas e seus interesses monetários, o mundo cada vez mais centrado no TER ao infelizmente no SER, como destacou as reflexões cristãs.

“Desde a entrada das nossas sociedades na era do consumo de massa, predominam os valores individualistas do prazer e da felicidade, da satisfação íntima, não mais a entrega da pessoa a uma causa, a uma virtude austera, a renúncia de si mesmo.” (LIPOVETSKY, 2004, p. 23)

Estamos centrados no poder das grandes corporações, os grandes conglomerados econômicos que passam a controlar a sociedade, impondo aos consumidores seus interesses e se utilizam do seu poder financeiro no controle da sociedade, contratando os melhores profissionais do mercado, os mais brilhantes advogados, economistas, contadores, financistas, administradores e gestores para incutir na mente os sentimentos de consumo, criando uma sociedade centrada no consumismo.

Um traço interessante e vale a pena refletir sobre, foi que no pós segunda guerra mundial, os Estados Unidos passou a dominar a sociedade global, exportando todos os instrumentos para a dominação e subjugação social, desde recursos monetários, escolas, universidades, livros, marketing, novos instrumentos de gestão, tais como o fordismo, que se expandiu para toda a sociedade global, mostrando o poder dos Estados Unidos para criar uma sociedade de acordo com seus interesses políticos, econômicos e culturais.

A sociedade que temos está centrada no consumo e nos prazeres do imediato, como destaca Gilles Lipovetski. Uma sociedade centrada na compra, na satisfação do consumo, o ato da compra é prazeroso e leva os indivíduos a angariar satisfação, dá prazer e leva os indivíduos a sentir-se feliz a satisfeito, muitas vezes estes prazeres são passageiros e, posteriormente, as pessoas entram em depressão em decorrência das compras elevadas e centradas em desejos desnecessários e descartáveis.

Outro teórico da sociologia que nos traz elementos para a compreensão das transformações da sociedade, é o polonês Zygmunt Bauman, cujas teses trouxeram grandes capacidades de compreensão da sociedade, neste pensamento, o sociólogo Bauman nos mostra os desafios centrados num mundo líquido, onde tudo perde a consistência, tudo se torna líquido, sem substância e sem estruturas sólidas, os relacionamentos são frágeis, as amizades suas reduzidas, os medos são líquidos, dentre eles…

Nesta sociedade centrada no individualismo, percebemos que os laços sociais perdem força, os relacionamentos são frágeis, as amizades perdem forças, as pessoas são cada vez mais individualistas, buscam seus interesses imediatos, deixam de planejar no longo prazo como se a lógica do mercado financeiro se tornasse a regra dominante, com isso, as pessoas querem ter prazer e gozos imediatos, sem estratégias e sem planejamentos.

Vivemos numa sociedade centrada no agora, no gozo e dos prazeres, querer ter felicidades e, como não se encontram facilmente, entram em depressões, em ansiedades crescentes e, no limite, se suicidam em forma de fugir dos conflitos mais íntimos e pessoais.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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