O desastre anunciado da economia brasileira

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Ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do produto interno bruto (PIB) no período do segundo trimestre, os dados não trouxeram nenhum estranhamento, queda em 9,7% na economia nacional, mesmo sabendo que a situação econômica retratada pelo instituto é claramente desastrosa, mostrando os impactos do vírus, da quarentena e dos desencontros das políticas governamentais, sem foco, sem planejamento, sem organização e sem estratégias claras e, muitos equívocos, vários conflitos políticos, mentiras generalizadas, hipocrisias crescentes e omissões constantes na gestão da pandemia, os dados mostram uma situação caótica, incremento no desemprego e no subemprego, queda vertiginosa da renda agregada, redução dos salários e uma maior desesperança.

Desde 2014 a economia brasileira está passando por grandes dificuldades de crescimento econômico, desemprego crescente e aumento da degradação social, levando a situação social a situações de desesperanças e desagregação generalizadas, criando na sociedade brasileira um ambiente de caos político, social, econômico e, na atualidade, uma crise sanitária causada pelo coronavírus e que levou a mais de 120 mil mortes de cidadãos.

No ambiente econômico, os dados do IBGE destaca números assustadores da economia brasileira, mais de 9,7% queda do produto interno bruto (PIB), aumento dos desequilíbrios do sistema econômico, gerando novas instabilidades e exigindo dos gestores públicos a uma atitude mais incisiva, utilizando todos os instrumentos econômicos disponíveis para reverter esta situação de degradação, sob pena de um incremento dos desajustes sociais que estão presentes na maior dos lares brasileiros, marcados por desempregos e medos crescentes. Os números desnudados pelo instituto exigem atuações dos agentes governamentais, assim como a grande maioria dos países civilizados estão fazendo, para diminuir os estragos do vírus, reconstruir as estruturas econômicas e produtivas e abrir novas perspectivas econômicas para a sociedade brasileira, sem estas providências urgentes, as condições tendem se degradar de forma acelerada.

Os dados divulgados pelo Instituto só foram piores, porque o auxílio emergencial aprovado pelo governo e incentivado pelo Congresso Nacional de 600 reais, com custos mensais de mais de 56 bilhões de reais. Importante destacar ainda que, segundo as ideias do ministro da economia e da equipe econômica, os valores deveriam ser algo em torno de 200 reais, valores insuficientes para a manutenção das condições de vida digna de uma parcela da sociedade brasileira.

Os recursos destinados pelo governo federal no auxílio emergencial de 600 reais foram fundamentais para que os dados divulgados pelo IBGE não fossem mais negativos e degradantes para a sociedade, neste momento, percebemos novas discussões e novas políticas para a superação deste ambiente marcado por graves desequilíbrios sociais e forte retração da economia nacional, sem novas estratégias claras e consistentes, os desequilíbrios devem crescer de forma mais degradantes, com maior falência de empresas, violência urbanas e incremento da insegurança e da desesperança.

Os indicadores econômicos da economia internacional mostraram que todos as nações estão em recessão, marcadas por incremento do desemprego e caos generalizados, os dados mostraram que o único país que conseguiu apresentar dados positivos no segundo trimestre foi a China, cujos dados chegaram a um crescimento econômico de 11,5%, valores surpreendentes que mostraram o potencial do país asiático, cujo isolamento social, a quarentena e o planejamento foram organizado pelo governo com êxito e grande sucesso.

Observando os dados disponibilizados pelo IBGE, percebemos que o único setor da economia brasileira que apresentou crescimento no período foi o agronegócio, que avançou 0,4% no segundo semestre, mostrando o forte crescimento da produtividade deste setor da economia brasileira, responsável pelo incremento das exportações e o aumento das vendas externas, principalmente, os negócios com o maior parceiro do país, a China, responsável por grandes aquisições e pela manutenção dos superávits comerciais brasileiros, a entrada de recursos externos e o equilíbrio das contas externas.

A conjuntura econômica brasileira está mostrando a queda acentuada dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) na estrutura produtiva nacional, chegando a algo em torno de 15% do produto interno bruto, dados muito distantes dos investimentos da economia, que chegaram a quase 22% do PIB no começo do século e garantiram uma taxa de crescimento maior de 3%, além de novos empregos e novas oportunidades de crescimento econômico.

O colapso da economia brasileira neste ano nos leva a ausência de um novo projeto econômico consistente, a ausência de planejamentos e estratégicas de emprego e reformas que ampliam o potencial de crescimento econômico. Neste momento, percebemos que os dados divulgados pelo IBGE não surpreenda todos aqueles que observam a conjuntura econômica, as dificuldades políticas do governo, as fragilidades no legislativo e os embates com o judiciário estão aumentando as dificuldades de gestão, dificultando o gerenciamento da crise, incrementando e degradando a situação econômica que é claramente caótica e seus impactos da crise gerada pelo covid-19 são cada mais maiores e consistentes.

A crise mostra os equívocos da equipe econômica liderada pelo economista Paulo Guedes, muitas versões equivocadas, mentiras crescentes, previsões furadas e falas desnecessárias levam a um ambiente de grave degradação social, instabilidade no mercado financeiro e afastando os investidores externos, que buscam espaços de investimentos consistentes e oportunidades claras de ganhos e melhorias de rentabilidades, todas ausentes da economia brasileira contemporânea, explicando os dados divulgados pelo IBGE.

Embora muitos setores, principalmente os detentores de grandes fortunas, a sociedade brasileira acumula grande ojeriza ao Estado Nacional, colocando-o no centro de todos os desequilíbrios sociais, políticos e culturais. Devemos destacar que o Estado Nacional tem grande papel na sociedade global, os defensores do pensamento liberal devem reconhecer o papel central para o crescimento e para a consolidação dos mercados, já que sem Estado os mercados não teriam formas de garantir os ganhos da acumulação, a acumulação financeira, os aparatos de seguranças públicas e a institucionalidade social, funções estas que tem no Estado seu espaço de atuação na sociedade moderna.

Os desastres geradas pelo coronavírus na economia brasileira e, principalmente, na sociedade nacional, deve ser vista como a ausência de planos concretos, pela fragilidade dos programas em curso, ausência de políticas organizadas em todos os entes federativos, marcados pela dificuldade de lideranças nacionais, visões mais amplas e  elaboradas, que incluam a todos os setores nacionais e todos os grupos sociais, sem estes programas e planos gerados e consolidados pelos governos, os dados trazidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não são novidades, estamos mergulhados na pior recessão econômica nacional, na verdade, estamos em crescente depressão, cujos impactos sobre a sociedade são assustadores, marcados pela ausência de projeto nacional claro, consistente e ambicioso.

As discussões em curso na economia brasileira são frágeis e desnecessárias, o Estado está perdendo a capacidade de estimular as grandes discussões nacionais, características existentes em décadas anteriores, onde a industrialização era conduzida pelos agentes governamentais e, tendo ao lado os setores industriais, os empresários nacionalistas, os grupos acadêmicos, da mídia e da sociedade civil, grupos interessados no progresso do país e a construção do desenvolvimento nacional. Na atualidade, os poucos grupos políticos estão interessados e dispostos a auxiliar na construção do desenvolvimento de um projeto nacional, querem apenas incrementar a acumulação e o crescimento dos interesses imediatos, atuando como lobistas de seus grupos econômicos e financeiros.

Na sociedade brasileira, os grupos mais abastados insistem em reformas fracassadas que recaem aos mais frágeis e nos setores da classe média, deixando de lado os grandes detentores da riqueza nacional, reformando os holerites dos outros setores e se colocando distante de reformas que atingem os status quo, como grupos dotados de grandes privilégios, pagam poucos recursos, conseguem isenções tributárias, não pagam seus recursos oriundos de lucros e dividendos crescentes e conseguem dominar todas as esferas nacionais de poder, perpetuando o poder e a dominação. No momento que escrevo, o governo federal deposita no Congresso Nacional uma proposta de Reforma Administrativa, uma reforma urgente e necessária para a sociedade, mas infelizmente, na proposta deixa de fora os grandes grupos detentores de salários mais elevados que impacta sobre as contas públicas. Os grandes detentores dos privilégios nacionais se perpetuando no poder e nos privilégios, com isso, o Brasil, mais uma vez, se especializa de perder novas oportunidades para dar um salto na produtividade e estimulando o desenvolvimento econômico e social, perpetuando as desigualdades e a exclusão social.

A economia mundial sente os desajustes gerados pelo coronavírus, seus impactos negativos é global, a pandemia exige atuação de todos os grupos nacionais e concatenação de interesses diversos, onde todos os grandes sociais devem compreender que uma sociedade não se constroem apenas como acumulo de seus ganhos econômicos e financeiros, a sociedade se constrói com ajustes constantes, com trabalho árduo e atuação de todos os grupos sociais, sem trabalhos dignos e decentes, sem crescimento da desigualdade social e do incremento de oportunidades para todos os setores. Desta forma, percebemos que a civilização está avançando lentamente e impulsionando a humanidade, deixando aos nossos herdeiros diretos melhores perspectivas, pela esperança e pela solidariedade.

As ideias liberais são interessantes e devem ser estimuladas na sociedade, para que este pensamento traga mais bem estar para a sociedade, faz-se necessário, construir novos espaços de oportunidades socias e de incremento profissional e emocional, sem estes crescimentos, os grandes beneficiados pelo liberalismo são aqueles que nasceram em grupos mais sociais mais consistentes financeiros e emocionais, perpetuando as desigualdades e consolidando os poderes de uma pequena parte da sociedade, os verdadeiros beneficiados pela iniquidade que crassa na sociedade brasileira. Num momento de pandemia, as discussões são fundamentais, a tributação deve ser centrada em grupo mais abonados, que neste momento de instabilidades e incertezas devem ser tributados mais intensivamente, garantindo o acúmulo de recursos econômicos e financeiros para diminuir os desequilíbrios nacionais, sem estes movimentos de atuação de maior tributação para a todos os grupos mais abastados, as instituições jurídicas e os agentes do Estado Nacional perderão mais legitimidade social, levando a sociedade a movimentos de renovação, a conflitos e reconstrução nacional.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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