Nos últimos dias o noticiário econômico internacional se destacou por notícias bastante negativas referentes a economia global, desaceleração em alguns países, recessão em outros, quedas nos investimentos e aumento do desemprego, estamos rumando rapidamente para um cenário de forte recessão, cujos impactos são variados e preocupantes, levando governos e Bancos Centrais a discutirem medidas para reverter este cenário de degradação e evitar mais uma crise global num período muito curto de tempo.
O ambiente se degradou nos últimos dias, quando países desenvolvidos e industrializados divulgaram indicadores preocupantes, a guerra comercial entre Estados Unidos e China aumentou e contribuiu para este clima de desesperança e preocupação constante, além disso, o governo alemão informou a comunidade internacional que sua economia apresentou crescimento negativo no período. A China destacou uma diminuição de seu crescimento econômico, além de uma situação preocupante na região, os confrontos entre os chineses e a população de Hong Kong, com alto potencial explosivo, destacamos ainda, a situação da América do Sul, marcada pela degradação da situação da Venezuela e pelas perspectivas negativas para a Argentina, cuja economia está em constante degradação, todos estes fenômenos estão gerando graves instabilidades na economia global.
A guerra comercial Estados Unidos e China está gerando grandes instabilidades globais, o aumento das políticas protecionistas e o discurso nacionalista está se espalhando pela economia global, mostrando a insanidade dos atores econômicos, principalmente do governo norte-americano, cujas políticas nacionalistas e de proteção a sua economia está degradando as cadeias globais de produção e levando os países a ressuscitar políticas protecionistas que estavam hibernando e apresentam potencial explosivos para conflitos maiores entre as potências. Depois de medidas contra os produtos exportados oriundos da China, com alíquotas mais elevadas, o déficit comercial aumentou drasticamente, colocando em risco o crescimento econômico do país, algo preocupante para uma economia em forte aceleração e para um presidente que inicia a caminhada para mais um período de quatro anos á frente da Casa Branca.
As reações chinesas mostram uma atuação forte e deliberada de uma economia que almeja uma posição de destaque na economia internacional, uma sociedade que, nos últimos quarenta anos, saiu de uma posição intermediária para uma posição de destaque, o conflito é mais do que comercial, deve ser visto como um conflito que visa a hegemonia da sociedade global.
A recessão global impacta diretamente sobre todos os agentes econômicos globais, menos comércio significa menos recursos nos cofres dos países e das empresas, menos vendas e produção menor, com redução nos níveis de emprego e, muito mais, um incremento no desemprego, justamente num momento marcado pelo crescimento da chamada Indústria 4.0, cujos contornos totais ainda são desconhecidos, mas os impactos sobre o emprego e a empregabilidade são gigantesco, gerando preocupações e incertezas, que afastam os investimentos produtivos.
Os avisos oriundos da Europa, principalmente o dos alemães preocupam a comunidade internacional, esta economia pode ser descrita como a locomotiva da região, seu potencial de exportação é elevado e sua posição industrial é sempre destacada pelos agentes econômicos. Uma recessão na Europa pode trazer graves constrangimentos para a região, isto porque, com a saída dos ingleses do bloco e sua desaceleração, os riscos de uma freada pode ter impactos mais negativos do que o imaginado anteriormente.
Neste ambiente de instabilidade nos países desenvolvidos, a economia global caminha para um momento de recessão, as Bolsas Globais já visualizaram este cenário no horizonte, neste momento mais de US$ 15 trilhões de investimentos nos mercados globais estão em produtos cujos rendimentos estão atrelados a juros negativos, ou seja, depósitos feitos em aplicações, cujos retornos são menores do que o capital investido, uma sinalização perigosa, será que estamos envoltos em uma crise maior do que aquela gerou a crise de 2008?
A economia mundial contemporânea apresenta características interessantes, para compreendê-la, faz-se necessário entender as cadeias globais de produção, uma estrutura produtiva que divide a produção em inúmeros países, nesta divisão, cada país que consegue se inserir nesta estrutura produtiva é responsável por uma parte do processo produtivo, diante disso, um país importa os produtos de vários países, monta e depois exporta para todos os demandantes destas mercadorias, com este modelo a produção é compartilhada entre vários países, uma crise num dos países impacta diretamente nos outros e acaba afetando toda a cadeia produtiva global, com impactos gigantescos sobre os países.
Com a guerra comercial em curso na economia internacional entre os Estados Unidos e a China, marcadas por políticas protecionistas e nacionalistas de ambos os lados, principalmente dos norte-americanos, a estrutura produtiva global e as trocas ficaram ameaçadas, gerando um clima de incertezas generalizadas, estas medidas acabaram criando um clima de protecionismo exacerbado entre as economias globais, gerando uma retração do comércio e levando a economia mundial a uma recessão cujos resultados são inesperados.
O mercado financeiro internacional se mostra instável e preocupado com toda esta situação, os juros estão baixos e os investimentos produtivos estão em queda livre, sem estes investimentos na produção não se gera empregos de qualidade, sem estes a economia global pode entrar em pane, como muitos teóricos acreditam, podendo gerar aquilo que Lawrence Summers chamou de estagnação global, um momento onde o sistema econômico capitalista perde o dinamismo e o crescimento se reduz rapidamente, algo parecido com o que estamos visualizando na atualidade.
Neste cenário de desaceleração de grandes economias, percebemos que a demanda global se retrai, os países reduzem suas importações e levam outras economias a venderem menos no mercado, neste ambiente as economias desaceleram, gerando um rastro de desaceleração econômica, cujos impactos sociais podem ser assustadores, aumentando o desemprego, reduzindo os recursos governamentais justamente num momento onde sua população mais demandariam investimentos públicos, gerando um verdadeiro caos para a economia internacional.
Para países como o Brasil, grande exportador de produtos primários, que tenta se recuperar de uma recessão entre 2015/2017, quando o produto interno bruto caiu mais de 8%, o aumento da instabilidade global pode gerar desequilíbrios sociais dos mais trágicos possíveis, desestruturando o tecido social e aumentando a violência e a criminalidade, que apresentaram sinais de incremento neste período, demandando um posicionamento maior e mais efetivo de um Estado que está mergulhado numa crise fiscal que parece insuperável.
No caso brasileiro, as medidas econômicas adotadas pelo governo, principalmente as vinculadas à Reforma da Previdência, devem melhorar o ambiente institucional e abrir novas perspectivas para a economia do país, mesmo assim, a tão sonhada melhora estrutural deve acontecer apenas no médio prazo, desde que outras reformas fundamentais sejam implementadas, onde citamos a Reforma Tributária, esta sim uma das mais importantes e fundamentais para melhorar o ambiente de negócios, destravar a economia e impulsionar o crescimento do país, deixando pra trás um período nebuloso que contribuiu para concentrar e piorar a distribuição de renda, deixando os pobres em situação mais degradantes e os ricos em uma situação de maior opulência.
Para piorar ainda mais a situação da economia internacional, a situação de nosso mais importante vizinho comercial, a Argentina, beira a insanidade. Depois de eleger um governo liberal que não trouxe os resultados esperados para a economia, as eleições de outubro ameaçam entregar o poder ao grupo que gerou graves desequilíbrios econômicos no país, diante desta situação, os mercados precificam uma possível situação de caos econômico generalizado, com graves impactos sobre a região e principalmente, sobre a economia brasileira, que vem sofrendo com os indicadores econômicos negativos do nosso vizinho desde 2016, quando nossas exportações se reduziram rapidamente.
Nesta situação de instabilidade e possível recessão econômica, os países começam a se movimentar para combater a degradação dos indicadores econômicos, os alemães calculam em mais ou menos 50 bilhões de Euros os recursos necessários para reverter a queda acentuada em suas exportações e nas atividades produtivas. Na China, o sinal vermelho também começou a gerar preocupações do governo, levando as autoridades econômicas a buscar soluções para a redução da atividade produtiva, um possível pacote de medidas deve estar a caminho, com isso, percebemos que quando a situação se degrada, os agentes econômicos defensores do livre comércio e da concorrência se voltam ao Estado Nacional para salvar o capitalismo e evitar uma crise generalizada no sistema, com impactos sobre toda economia mas, principalmente, para os grupos menos organizados e vulneráveis do sistema econômico.
Numa situação de recessão global, como a que vivemos na atualidade, os donos do capital iniciam um processo de retirada de seus recursos dos mercados emergentes e levam estes capitais para os mercados mais consistentes, preferindo a renda fixa americana – a demanda por Treasuries tem crescido rapidamente, do que os mercados de países em desenvolvimento, com isso, as moedas destes países emergentes podem iniciar um ciclo de valorização com impactos sobre suas exportações e suas contas externas.
Outro ponto estrutural que deve ser destacado neste momento, é que a economia internacional, nos últimos anos, vem aumentando a desigualdade de renda, um movimento que mina os recursos das classes médias ocidentais e diminuem seu consumo, com isso, percebemos uma redução na demanda de produtos industrializados nos países exportadores, esta redução se dissemina por todas as cadeias globais de produção e reduz a demanda por novos investimentos e a geração de novos empregos. O crescimento na desigualdade global está ameaçando a saúde do sistema econômico, gerando desesperança, desemprego estrutural e ameaças a democracia, levando países democráticos a elegerem governos nacionalistas e protecionistas, que assumem com promessas milagrosas e defendem políticas que impulsionarão o crescimento econômico e uma melhoria na condição de vida das populações, na verdade geram mais nuvens escuras, instabilidades e xenofobismo entre as sociedades.
Uma recessão global no momento pode trazer graves prejuízos para a economia internacional, numa sociedade marcada por instabilidades e medos generalizados, onde o emprego e a boa qualidade de vida estão sendo ameaçados todos os dias pela intolerância, pela violência disseminada e pelas crises econômicas, uma recessão pode gerar mais estragos e desequilíbrios, nos levando cada vez mais a um verdadeiro caos global.