Desemprego, desenvolvimento tecnológico e recuperação econômica

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A economia brasileira vem passando por crises fiscais intensas nos últimos cinco anos, elevando o desemprego a níveis estratosféricos, gerando grandes instabilidades, desequilíbrios e desagregações sociais constantes, os indicadores fiscais são alarmantes, o desemprego se tornou uma epidemia nacional, os investimentos caem de forma acelerada e as propostas do governo, por mais que possam ser defensáveis, estão sempre mirando no médio e no longo prazo, enquanto a desagregação dos lares com membros desempregados é intensa e acontece todos os dias, gerando desespero e desesperança.

Estamos envoltos em uma situação de grandes incertezas, neste ambiente, os investimentos se reduzem, os investidores internacionais temem que o crescimento da dívida pública possa inviabilizar os pagamentos futuros do Estado, levando-o a bancarrota, os trabalhadores estão receosos de compras e prestações maiores, temem o desemprego e se retraem como consumidores, deixando seus dispêndios para um futuro com mais certezas e menores instabilidades. Os gastos públicos estão em retração, a piora na situação fiscal obriga o governo a contingenciamentos constantes, gerando o agravamento da situação econômica, o aumento da degradação das famílias e dos serviços sociais.

A crise econômica vivida na atualidade pode ser descrita como a de mais longa recuperação em décadas, além de ter sido uma crise severa, com forte degradação dos indicadores macroeconômicos, percebemos que a economia está tendo dificuldades para se recuperar, o crescimento econômico se encontra na casa do 1% ao ano, se repetindo em 2017 e em 2018 e com grandes perspectivas de continuar neste ano, agravando as condições sociais e aumentando as incertezas dos investidores e dos consumidores.

O desemprego na sociedade brasileira está na casa dos 12% da população, perfazendo mais de 13 milhões de desempregados, se somarmos ainda, um contingente de mais de 15 milhões de trabalhadores que estão em condições precárias e sobrevivendo na informalidade, este número totaliza uma parcela de mais de 28 milhões de brasileiros que estão em condições degradantes de trabalho, onde as condições laborais são negativas, marcadas por grandes incertezas profissionais para um futuro muito próximo.

Este desemprego pode ser descrito como sendo um efeito das incertezas crescentes da sociedade brasileira, desde os fenômenos econômicos descritos anteriormente até fenômenos políticos que crescem de forma acelerada e que, mesmo com um novo governo de plantão, ainda não se conseguiu solucionar estas instabilidades, colocando em posições contrárias grupos antagônicos e atores sociais, criando celeumas, discussões e debates marcados por inverdades e pelas chamadas fake News.

Vivemos em uma sociedade marcada pelo crescimento acelerado das redes sociais, estas novas ferramentas de comunicação difundem notícias verdadeiras e inverdades que aumentam a instabilidade política e levam a sociedade para um verdadeiro caos político, onde os grupos sociais entram em confronto aberto difundindo ódio, ressentimento e uma violência generalizada, transformando a política em um grande palco de conflitos e violências, criminalizando-a e limitando os alcances da democracia.

A recuperação econômica do país passa por medidas de incentivos do governo nos vários setores econômicos e produtivos, além de um esforço generalizado de pacificação dos grupos políticos em prol das melhoras na economia e na recuperação econômica, somente uma diminuição destas incertezas políticas que os investidores poderão olhar para a economia brasileira e enxergar um futuro mais consistente e promissor.

Os investidores estrangeiros estão aguardando uma sinalização mais efetiva das autoridades brasileiras em duas grandes frentes, no campo político uma maior pacificação da sociedade e uma diminuição de uma polarização que gera mais perdedores do que ganhadores. No front econômico, espera-se do governo medidas consistentes no campo fiscal, como a Reforma Previdenciária e, num segundo momento outras reformas, principalmente a tributária, a política e a do Estado, todas estas tendem a garantir boas oportunidades de investimentos num futuro muito próximo, melhorando as possiblidades de novos empregos e um incremento da renda agregada da sociedade.

As reformas devem vir em concomitância umas com as outras, a reforma previdenciária deve englobar dois objetivos maiores, de um lado melhorar as condições fiscais, dando uma maior flexibilidade para que os gestores consigam realocar os recursos e honrar os pagamentos, dando aos investidores nacionais e estrangeiros a certeza de que o endividamento está sob controle e que o Estado apresenta condições fiscais satisfatórias e os riscos de insolvência sejam mínimos. De outro lado, esta reforma previdenciária deve almejar uma melhora nos desequilíbrios do sistema de aposentadorias, reduzindo as grandes aposentadorias de grupos privilegiados que, durante muitas décadas, tiveram seus subsídios engordados em valores muito superiores aos aceitáveis. E uma terceira frente que não pode ser esquecida pelo governo federal, é a cobrança incessante de todos os devedores da Providência Social, sem o ataque direto a todos os inadimplentes do sistema e uma estratégia clara de cobrança de gigantescos grupos econômicos, a população não se sentira confortável na defesa desta pauta importante e fundamental para o desenvolvimento econômico.

Neste ambiente, com a economia parada e os investimentos em retração, o governo está propondo medidas emergenciais para reativar o crédito e dar um maior fôlego para a economia, dentre as medidas estudadas, segundo o Ministro da Economia Paulo Guedes, destacamos a liberação dos recursos das contas ativas do FGTS, com estes recursos em mãos, os trabalhadores tendem a pagar suas dívidas e voltar ao mercado consumidor, impulsionando o aquecimento na demanda e uma melhora nos indicadores macroeconômicos.

Esta medida pode ser vista como um paliativo mas tem impactos políticos interessantes para a população e tende a melhorar as condições de muitas famílias, que viram suas condições financeira se deteriorarem ao longo dos últimos anos. Para os trabalhadores, esta alteração é positiva, como os rendimentos do FGTS são exíguos e minguados, a retirada contribuiria para o pagamento de contas cujas taxas de juros são bem mais elevadas e geram estragos generalizados sobre os recursos dos trabalhadores.

O desemprego que estamos vivenciando na sociedade brasileira está diretamente vinculado às questões conjunturais e ao baixo crescimento econômico, nada tendo a ver com o desemprego estrutural marcado pelo crescimento da tecnologia da chamada Quarta Revolução Industrial, sendo assim, a recuperação da economia e a volta do crescimento tende a melhorar as condições de emprego e estimular os investimentos produtivos, deixando para um segundo momento uma discussão mais consistente sobre a empregabilidade neste novo momento da economia mundial, que exige dos trabalhadores e dos Estados Nacionais uma intensa capacitação e políticas públicas voltadas para uma melhor qualificação dos trabalhadores.

No caso brasileiro, uma reforma tributária deveria contemplar uma simplificação de nosso sistema, uma tributação maior sobre investimentos financeiros e sobre propriedades, uma regulamentação sobre grandes fortunas, uma redução das isenções tributárias, gerando benefícios financeiros e incentivando as iniciativas individuais, o empreendedorismo, melhorando o ambiente de negócios e garantindo novos espaços para investimentos produtivos, com geração de emprego e melhoras sociais.

Uma redução do Estado também deve ser incentivada, um amplo programa de privatização, uma abertura maior e mais racional da economia, diferente daquela que foi feita nos anos 90 e um amplo programa de análise das políticas públicas e sociais que estão sendo implementadas pelo Estado, a racionalização destas políticas é um instrumento interessante para que encontremos os gargalos econômicos que geram privilégios inaceitáveis e que levem a economia de recursos financeiros para incrementar as políticas mais bem avaliadas e que trazem retornos mais consistentes para a população.

O desemprego tem um impacto avassalador sobre as famílias, destroem os laços sentimentais, aumentam as violências e geram destruições de vínculos familiares sólidos, mexem com a auto estima e obrigam as pessoas a se submeter a atividades, muitas vezes, desfavoráveis e com rendimentos reduzidos, contribuindo para uma piora das condições sociais e emocionais.

Outro ponto interessante e importante para que destaquemos neste momento, na sociedade atual encontramos inúmeras pessoas convivendo em ambientes de trabalhos degradados, com pressões insuportáveis, chefes autoritários e violentos, cobranças exageradas, salários degradados e benefícios sociais reduzidos, esta situação esta agravando as patologias nas organizações, depressão, ansiedade, estresse, obsessões e as mais variadas doenças comportamentais, gerando medos e inseguranças que podem culminar em doenças e comportamentos degradados.

O motor para a melhora da economia é o investimento produtivo, tanto público quanto privado, e para que este investimento aconteça, faz-se necessário uma pacificação do ambiente político, uma melhora nas condições fiscais do Estado, uma diminuição das dívidas das famílias e uma melhora no consumo interno, todas estas variáveis devem atuar diretamente para que a economia volte a criar empregos e as expectativas positivas dominem o cenário econômico, sem estas melhoras a economia brasileira tende a se manter em uma situação de grande instabilidade e incerteza generalizadas.

O mundo do trabalho está se transformando de uma forma muito acelerada, o desenvolvimento da tecnologia, das máquinas e dos equipamentos está transformando os vários setores da economia e seus profissionais em seres obsoletos e atrasados, onde os robôs passam a ocupar espaços antes restritos aos homens, obrigando os indivíduos a buscarem novas qualificações, novos cursos e uma constante busca por conhecimentos, jogos e novidades tecnológicas. Estas buscas demandam empenho, atenção, disciplina e consome o tempo dos indivíduos, obrigando-os a deixarem seus familiares de lado, perdendo com isso oportunidades crescentes de integração e de consolidação familiar, o indivíduo desenvolve a máquina e a tecnologia e acaba se transformando em seu mais fiel escravo, sendo todos os instantes dominados por estas engenhocas altamente estruturadas na tecnologia, gerando pessoas frias, egoístas e imediatistas.

O Brasil precisa retomar seu projeto de desenvolvimento, precisamos saber o que queremos ser quando nos tornarmos adultos, se queremos continuar sendo o eterno país do futuro com terras agricultáveis, solo privilegiado e recursos minerais em abundância, ao mesmo tempo que abrigamos uma população com uma reduzida bagagem intelectual, sem esgoto tratado e com índices de criminalidade dos mais elevados do mundo, esta escolha é fundamental para que possamos entender nossas ambições e nossos desejos futuros.

A tecnologia deve ser vista como um grande avanço para a sociedade global, mas os agentes econômicos e políticos devem destacar a complementariedade desta tecnologia, mostrar seus pontos positivos e incentivar os indivíduos a verem-na como um indicativo de um novo momento da sociedade global, como nos avanços na saúde, nas comunicações e na educação. O grande equívoco é que muitos demonizam a tecnologia, destacando-a como a grande responsável pelos desequilíbrios da sociedade, colocando-a, como a principal responsável pelo desemprego e pelo aumento da desigualdade social, a tecnologia não deve ser vista como um fim, mas como um grande meio para que consigamos construir uma sociedade melhor e menos desigual, onde os indivíduos de todas as etnias, regiões e classes sociais tenham as mesmas condições de vida e oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Tudo isto pode parecer uma grande utopia mas todas as utopias começaram com o sonho de uma única pessoa e se transformaram em uma sonho coletivo e da comunidade.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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