Médiuns, mediunidade e comunicação com os espíritos

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A sociedade vem passando por grandes mudanças nos últimos anos, muitas estruturas sociais estão sendo removidas e outras estão sendo colocadas no lugar, gerando medos, instabilidades e grandes preocupações, o mundo contemporâneo assusta e instiga o indivíduo e o leva a buscar respostas para suas dúvidas mais íntimas e pessoais.

Dentre estas dúvidas, encontramos questões relacionadas a mediunidade, os chamados dons mediúnicos atraem muitas pessoas e cria uma aura de infalibilidade e inquietação, levando as pessoas a pagarem fortunas para se comunicar com entes queridos desencarnados, para buscar proteção ou para saber sobre seu futuro e suas perspectivas mais íntimas.

Os médiuns sempre geraram inquietação na sociedade, um misto de mistério e curiosidade, medo e esperança se misturando e criando expectativas, saber sobre os próximos passos e poder se comunicar com entidades e espíritos superiores sempre atraiu o ser humano, é como se o mundo espiritual superior estivesse sempre disponível para esclarecer sobre suas dúvidas ou para satisfazer as suas demandas mais íntimas e pessoais.

Em momentos anteriores, reis e rainhas concediam inúmeros poderes e privilégios aos seus médiuns favoritos, verdadeiros conselheiros, pessoas dotadas de grande sensibilidade que trabalhavam como informantes e confidentes da família real, informando-os sobre movimentos de opositores e munindo-os de informações privilegiadas. Estas personagens se revestiam de poder e difundiam medo e admiração, criando verdadeiras levas de bajuladores e detratores, numa relação baseada em amor e ódio.

Foi com a Doutrina dos Espíritos que a mediunidade passou por um processo de profissionalização, os médiuns foram descortinados por Allan Kardec, quando publicou a obra O Livros dos Médiuns, desde então a mediunidade passou a ser vista como mais um sentido para o ser humano, um instrumento de comunicação com o mundo espiritual, um instrumento de crescimento e de reparação de equívocos por parte dos encarnados, afinal todos reencarnamos com um único objetivo: o crescimento espiritual.

Mediunidade deve ser vista como um instrumento de trabalho concedido pelos espíritos superiores para que o indivíduo se desenvolva, todos somos médiuns, alguns dotados de mediunidades mais avançadas enquanto outros apresentam uma mediunidade menos desenvolvida. Devemos defini-la como uma sensibilidade que dá ao indivíduo uma potencialidade de comunicação com entidades de outros mundos, em algumas pessoas esta mediunidade se apresenta coma a psicofonia, outros como médiuns doutrinadores, outros são descritos como psicógrafos, alguns são oradores, outros passistas, ou seja, existem variados tipos de mediunidade, que encantam as pessoas e em muitos casos criam uma verdadeira idolatria, onde se concede ao médium um poder que inexiste.

A mediunidade é um grande instrumento de auxílio, inúmeros pais e familiares recorrem aos médiuns em momentos de desespero e desesperança, alguns os buscam quando perdem seus entes queridos, objetivando uma palavra ou um comentário mais íntimo para diminuir esta dor que corrói o coração e gera sentimento de indignação e, em muitos casos, de revolta.

Em muitos casos, a sociedade atribui um papel santo ao médium, dando-lhe um poder que este não possui, muitos o canonizam, transformando-o em um verdadeiro missionário, dotado de uma santidade exagerada. Devemos destacar, que todos somos espíritos em evolução, todos temos defeitos e qualidades, quando atribuímos santidade a algumas pessoas muitas vezes acabamos ressaltando uma vaidade que existe em todos os indivíduos, esta vaidade pode levar o médium ou o indivíduo incauto a quedas devastadoras, tornando missões tão nobres a ser transformada em motivos de detração e degeneração moral.

São muitos os médiuns que abusam deste poder imaterial e passam a se enxergar como verdadeiros missionários, acumulam poderes e se utilizam destes para um enriquecimento material, levando-o a cultivar vaidades e ambições, afastando destes médiuns os espíritos superiores que os acompanhavam até então e levando-os a serem acompanhados por entidades que vibram em um diapasão mais parecidos com os seus pensamentos e as suas energias. Nesta situação, a espiritualidade superior pode interferir para evitar que estes médiuns se comprometam de forma mais intensa, levando-os de volta ao mundo dos espíritos, com isso, reduzindo sua capacidade de criar problemas e desequilíbrios futuros.

O trabalho do médium consciente auxilia muito no desenvolvimento da comunidade, mostrando que a vida física é, na verdade, um período transitório, momentâneo mas fundamental, a verdadeira vida se dá no mundo espiritual, somos espíritos animando corpos materiais, que devem ser descritos como vestimentas utilizadas para que desenvolvamos nossas potencialidades, este mundo material é marcado por muitas limitações para o espírito que vê suas potencialidades serem reduzidas em prol de um desenvolvimento posterior.

Ao médium muitas oportunidades lhes são dadas, mas também muito lhe serão cobrados, o contato com o mundo espiritual pode servir como um instrumento de auxilio e de equilíbrio a muitos que se encontram perdidos e perturbados, a comunicação abre espaço para que muitos desajustes cometidos anteriores sejam resolvidos, a aproximação entre encarnados e desencarnados pode contribuir para dirimir melindres e consolidar sentimentos e mágoas cometidas anteriormente que estavam armazenadas intimamente, criando uma obsessão que poderia culminar em possessão espiritual.

O grande exemplo de médium que a sociedade mundial teve, foi a figura exemplar de Francisco Cândido Xavier, que em mais de 90 anos trabalhou de forma incansável para a consolidação da Doutrina dos Espíritos, continuando uma obra começada por Allan Kardec em meados do século XIX, aprofundada em forma de livros, artigos, mensagem, entrevistas e, principalmente, uma vida centrada em exemplos de abnegação e dedicação as leis de Jesus Cristo.

A trajetória deste grande médium começa com a publicação de inúmeras obras, atualmente quase quinhentos livros foram por ele publicados, sendo que destas obras o médium não usufruiu de nenhum recurso financeiro, todos os direitos destes livros foram destinados a obras de caridade e divulgação da Doutrina, revertendo em uma ampla base material de estudos, pesquisas e conhecimentos, tão fundamentais para o progresso do ser humano, diante disso tudo, não mais podemos alegar desconhecimento e ignorância, justificativas antes utilizadas pela grande maioria daqueles que chegam ao mundo espiritual com as mãos vazias de obras e construções imateriais sólidas e consistentes.

Depois de escrever livros que destacam a história do cristianismo, nos anos 1970, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier vai se reverter as mensagens de conforto espiritual, levando aos corações aflitos informações de ente queridos que haviam partido para o mundo espiritual, estas mensagens trouxeram grande visibilidade ao médium, tanto no Brasil quanto no exterior, mas mesmo assim, continuou seu trabalho de forma humilde, levando conforto e esclarecimentos a todos que o procuravam em momentos de desesperança e desespero íntimos.

Mães e pais que haviam perdido seus filhos, esposas que tiveram seus maridos retirados de sua convivência no mundo material, pessoas das mais diferentes classes sociais, gêneros e comportamentos eram por ele atendidas da mesma forma, levando a estes corações o conforto, a paz e o equilíbrio, energias fundamentais para o progresso do ser humano.

Familiares que perderam seus entes queridos e que, no momento do desencarne, estavam afastados ou brigados por motivos fúteis, buscavam na figura de Francisco Cândido Xavier a oportunidade de conversar com seus familiares desencarnados, momento este desejado intimamente para pedir desculpas, chorar e se arrepender de palavras, comportamentos e atitudes levianas que nada constroem e que geram grandes constrangimentos para todos que a cometem.

Outro exemplo de dedicação ao pensamento espírita foi o da médium Yvonne do Amaral Pereira que, em uma de suas obras relata um fato ocorrido em sua vida, quando foi procurada por uma entidade que lhe prometeu grande fortuna e inúmeros prazeres materiais em troca de publicação de livros com outro caráter religioso e voltado para outras temáticas, deixando de lado os compromissos assumidos anteriormente.

Assim como Yvonne Pereira e Francisco Cândido Xavier, muitos outros médiuns e trabalhadores do ideal espírita foram tentados por entidades momentaneamente inferiores para que passassem para o outro lado, deixassem suas missões e compromissos espirituais assumidos anteriormente para traz e seguissem por uma estrada de luxo, ostentação e muitas riquezas materiais. Alguns aceitaram e tiveram quedas homéricas, outros rejeitaram as propostas, viveram com grandes limitações e ganharam homenagem valorosos no mundo espiritual, cumpriram com o que se comprometeram antes de reencarnar e podem ser considerados como espíritos vencedores, renasceram, trabalharam, foram muitas vezes humilhados, agredidos e incompreendidos, mas podem dizer que, com amor, fé e resignação, venceram o mundo.

A comunicação com entidades desencarnadas pode acontecer de inúmeras formas, muitas vezes sentimos uma inspiração interior, percebemos que uma ideia se encontra em nossa mente ou sentimos uma inspiração que não sabemos suas origens, nestes momentos podemos estar sendo inspirados pelos espíritos superiores ou por espíritos inferiores, que assim como os bons espíritos podem nos inspirar, estimulando sentimentos e comportamentos, por isso, faz-se fundamental o equilíbrio e os bons pensamentos para sentir as inspirações dos bons espíritos.

Muitas das grandes descobertas da humanidade surgiram via inspiração dos bons espíritos, que inspiraram cientistas e pesquisadores levando-os a descobertas que muitos benefícios trouxeram para a comunidade internacional, estas inspirações aconteceram e podem ser claramente compreendidas através das palavras do grande poeta português Fernando Pessoa, que nos disse: Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.

            A relação entre os dois mundos, espiritual e material, é uma constância na vida de todos os indivíduos, a doutrina espírita nos trouxe uma revelação de grande impacto sobre a sociedade, alguns grupos tentam denegrir ou ofuscar estas revelações, buscando elementos difamatórios, muitos médiuns são abduzidos pelas doutrinas materialistas, o poder do dinheiro ainda tem grande importância sobre as escolhas da humanidade, o dinheiro abre portas e cria ilusões que os indivíduos apenas terão consciência nos momentos da debacle, nos instantes das dores e das humilhações, muitas destas escolhas ainda foram motivadas por entidades espirituais que se comprazem com o mal-estar e a indignidade, levando médiuns invigilantes a quedas terríveis.

Os trabalhos mediúnicos são fundamentais para o fortalecimento e a consolidação desta comunicação entre matéria e espírito, retrata a dimensão da existência humana e nos mostra como os espíritos podem nos influenciar em nossas decisões e escolhas, as materializações que ocorriam em períodos anteriores foram substituídas por inspirações, os momentos de fenômenos materiais ficaram para traz, na atualidade, os espíritos superiores se manifestam através de ideias e inspirações, mas para isso, faz-se necessário que a coletividade cultive bons pensamentos e atitudes elevadas, somente assim estes espíritos poderão nos inspirar para que alcancemos um progresso maior e a consolidação dos ideais mais nobres que viemos buscar em nossa atual encarnação.

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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