Desemprego, estagnação econômica e degradação no mundo do trabalho

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O país vem passando por um momento de grandes apreensões econômica e política, com impactos sociais sobre toda a coletividade, nos últimos cinco anos temos a convicção de que estamos andando a passos crescentes e inexoráveis para um abismo, cujas consequências futuras são imprevisíveis, mas que já estamos sentindo individualmente, o Brasil está caminhando rapidamente para um precipício perigoso e assustador.

O desemprego cresce de forma acelerada, degradando as condições sociais e gerando um clima de insatisfação social, medo e desesperança, condenando o país a mais uma década perdida, com crescimento negativo e queda considerável nos indicadores sociais. Os poucos empregos gerados no sistema econômico são marcados por baixa produtividade e remuneração limitada, além de, a grande maioria ser caracterizado como empregos precários e sazonais, sem direitos trabalhistas e previdenciários, condenando o país a um debate interminável sobre Reforma da Previdência.

Pesquisas recentes nos mostram que o aplicativo Uber é o maior empregador do país, emprega alguns milhões de trabalhadores de forma precária, estes trabalhadores não têm carteira assinada, décimo terceiro salário, contribuição previdenciária, férias, etc… e nunca viram e jamais verão seu empregador, gerando um mercado cada vez mais frio e invisível, onde os laços sociais e emocionais não mais existem. Cada vez mais nos acostumamos a conversar com as máquinas e com a tecnologia, elas nos servem no cotidiano, nos auxiliam nas atividades modernas, nos geram prazer e nos confortam nos momentos de medo e desesperança, em alguns países desenvolvidos servem até mesmo para fazer sexo e aliviar os mais excitados e imediatistas.

A economia brasileira está num momento de grande estagnação, precisamos de reformas urgentes, dentre elas precisamos de reformas que reconstruam a previdência social, reduzindo os benefícios dos grupos detentores de altos salários, fortes benefícios e aposentadoria integral e de uma diminuição dos dispêndios agregados para que o sistema volte a ser superavitário ou, pelo menos, que não esteja em condições de insolvência imediata, melhorando as perspectivas das próximas gerações e reconstruindo as perspectivas positivas para as gerações mais jovens.

Além desta reforma, precisamos de uma ampla redução nos subsídios e benefícios aos grandes conglomerados econômicos, que constantemente criticam a situação fiscal de insolvência do Estado Nacional mas, ao mesmo tempo, não abrem mão de seus recursos privilegiados, são verdadeiros hipócritas exploradores que se refestelam nas festas com dinheiro público e criticam os gastos excessivos com as políticas sociais.

Nesta semana ficamos estarrecidos com as linhas de créditos abertas pelo BNDES para dois dos maiores bancos privados do Brasil, estes bancos reportaram lucros astronômicos no primeiro trimestre do ano e, mesmo assim, buscam no banco público empréstimos em condições favoráveis para seus acionistas, pouco se importando com mais de sessenta milhões de negativados, com números superlativos e fortemente negativos, dificilmente conseguiremos sair desta situação de desalento,  de desesperança e de baixa confiança da população brasileira.

Enquanto o país possui mais de 13 milhões de desempregados e mais de 27 milhões de desalentados e trabalhadores em condições precárias, totalizando mais de 40 milhões de pessoas passando por dificuldades materiais das mais primárias, crianças abandonadas e passando fome, adultos sem esperança, pais e mães de família que perderam o respeito de seus filhos e familiares, muitas vezes se entregando a condições de indignidade, muitos sucumbem ao roubo, as drogas, ao álcool e a violência como formas de sobrevivência.

Na sociedade capitalista que vivemos, o consumo está associado ao emprego, sem emprego os trabalhadores não possuem salários e recursos amoedados para sua sobrevivência e de seus familiares, o desemprego gera uma redução considerável da autoestima, uma perda da confiabilidade social e uma tendência a um incremento na violência urbana, nesta situação os lares se desagregam mais rapidamente e as condições de vida se precarizam de forma acelerada e crescente.

Os gestores públicos e as classes políticas brasileiras ainda não acordaram para a real situação do país e dos trabalhadores, de uma forma geral, com este número crescente de desempregados e subempregados, não demorará muito para que as classes mais miseráveis adotarão uma outra estratégia de manifestação e reivindicação, sob pena de perderem todas as perspectivas de sobrevivência e se condenarem a miséria e a indigência num futuro muito imediato.

Todos os dias encontramos previsões econômicas sendo revistas, instituições renomadas que fizeram previsões positivas no final do ano passado estão caindo na real e clamam pela reforma da previdência, acreditando que esta será a grande panaceia da economia brasileira, apesar de defendermos a reforma, acreditamos que serão necessárias muitas outras mudanças na lógica econômica para que este país volte a ter viabilidade, sem reformas mais profundas estamos condenados a uma situação próxima da bancarrota, com fuga de capitais, taxas de juros elevadas, dívida pública em explosão e sem recursos para pagamento de aposentadorias, pensões e benefícios, com relação aos investimentos, estes estão ausentes desta equação a muito tempo.

A oitava economia do mundo, um país com amplo potencial de crescimento e desenvolvimento social, se encontra em uma situação de estagnação, num momento de grandes inquietações no mundo contemporâneo, um momento de desagregação de todas as bases da sociedade global, de avanços consideráveis da tecnologia e do domínio de um novo modelo de inteligência, a Inteligência Artificial (IA), com alto potencial de transformação social, de desemprego e de desestruturação da sociedade internacional.

Neste ambiente de desesperança, os donos do poder se esforçam para discutir medidas ineficientes e contraditórias, com o crescimento da violência as discussões estão na generalização do porte de armas e da possibilidade de armar os indivíduos, na situação de fragilização educacional do país, com capital humano de baixa qualificação, os inimigos da hora passam a ser os professores, os pesquisadores e as universidades públicas, querem uma política de austeridade cortando recursos escassos daqueles que mais necessitam e deixam recursos abundantes nas mãos daqueles que se refestelaram por muito tempo e pouco fizeram para melhorar o país e a sociedade brasileira, estamos mesmo num momento único e desesperador da história recente do país.

Precisamos de políticas sérias e eficientes para resolver os graves problemas do país, precisamos de pesquisadores capacitados e competentes para investigar a eficiência das políticas públicas implementadas até então, se seus resultados foram comprovados estas políticas devem ser estimuladas e melhoradas, visando um melhor dispêndio dos escassos recursos públicos, agora, se se mostrarem ineficientes e dispendiosas, devem ser substituídas por outras, visando uma maior eficiência do gasto público e uma maior cobertura da população em vulnerabilidade social, pessoas que demandam investimentos urgentes para evitar que, num prazo não muito longo, os dispêndios sejam feitos para aumentar a quantidade de penitenciárias, delegacias e centros de detenções provisórias.

Precisamos discutir de forma eficiente, o lucro do sistema bancário e do sistema financeiro, como pode em um ambiente marcado por tantas pessoas negativadas e por uma classe média afogada em dívidas, com parcelas atrasadas e duplicatas vencidas, o setor bancário acumular lucros generosos, alguma coisa excepcional deve estar por trás do poder econômico, financeiro e político destas instituições que, entra governo e sai governo, os lucros crescem de forma acelerada e crescente, gerando indignação e desesperança social.

Devemos destacar ainda, uma discussão que ganhou força recentemente no país depois do contingenciamento de recursos públicos para o setor educacional, embora saibamos que o país gasta mais recursos no ensino superior do que em outros ensinos, o corte de recursos não pode acontecer de uma forma desorganizada, sem planejamento e marcado por critérios equivocados e preconceituosos, mesmo porque, ao parar as instituições de ensino superior pública, pararemos a pesquisa e as iniciações científicas e os programas de mestrados e doutorados, pois são estas instituições as grandes responsáveis pela pesquisa científica do país, sem elas, as condições de indigência seriam maiores e mais desanimadoras. As universidades e faculdades privadas pouco fazem pesquisa, se concentram mais nas extensões e na formação da graduação, poucas inovam e melhoram os indicadores científicos do país, instituições como os grandes conglomerados educacionais, detentores de mais de 1,5 milhões de alunos, instituições compradas e geridas por fundos de investimentos servem, muito mais para o aumento dos recursos de seus acionistas e controladores, gerando grandes somas de recursos para seus detentores, diplomas de péssima qualidade, professores mal remunerados e perspectivas num futuro próximo tão reduzidas quanto limitadas.

Algumas medidas urgentes que nos parecem interessantes estão sendo costuradas, a diminuição de empresas estatais e órgãos públicos, muitos deles ineficientes e marcados por grandes potenciais de corrupção e desmandos generalizados. Destacamos ainda, a redução dos recursos para o Sistema S, embora estas instituições tenham um papel interessante nas coletividades que atuam, seus preços são compatíveis com os adotados por concorrentes privados, a transparência e a divulgação dos recursos levantados e as formas como estes recursos são administrados devem ser feitas de forma imediata, acabando com grupos que se utilizam destas instituições para o acúmulo de benesses particulares, esta moralização se faz urgente e necessária e devemos aplaudir e elogiar.

A construção de um país se faz lentamente, a identidade nacional e um projeto de país devem ser a condição sine qua non, sem estes pré-requisitos e uma elite capacitada, bem formada e marcada por um nacionalismo positivo, centrados em investimentos em educação, saúde e na formação de recursos humanos capacitados e conscientes, além de uma educação que mostre ao indivíduo a importância de construir cidadãos verdadeiros e não apenas consumidores imaturos e imediatistas, como estamos fazendo a alguns anos e os resultados se mostram cada vez mais negativos e limitados, vivemos mais uma década perdida e a culpa não pode ser atribuída a um único partido ou a um único governo, a sociedade precisa aprender a fazer as suas escolhas e assumir que, em momentos anteriores, escolhemos errados e nos mostramos imaturos, mimados e inconsequentes, por isso estamos pagando por isto agora de forma tão desalentadora e sem esperanças de que dias melhores virão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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