Somos todos médiuns: uma reflexão sobre os (des)caminhos da mediunidade

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A Doutrina Espírita nos trouxe inúmeras informações relevantes para a compreensão  da sociedade, da vivência em comunidade e da relação existente entre os mais diversos mundos que nos cercam, mostrando-nos a existência do mundo imaterial ou espiritual, que está diretamente atrelado ao mundo físico e que nos influência muito mais do que nós imaginamos, muitas vezes nos conduzindo e nos influenciando muito mais do que queremos e percebemos.

A mediunidade não foi descortinada pela Doutrina dos Espíritos, desde os primórdios da humanidade se tem informações e registros de que a relação entre os mais diferentes mundos era uma constante, eram as bruxas, as pitonisas, as deusas e os magos que se diziam em contato com o mundo espiritual e detentores de poderes sobrenaturais, com força e disposição para atitudes que variavam no bem ou no mal, dependendo do caráter e da moral do indivíduo.

Quando o Espiritismo nos foi revelado por Allan Kardec, em 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, as antigas crenças em bruxos e bruxas perderam força e abriram espaço para uma nova matriz de conhecimento, nascia para o grande público uma nova forma de se pensar a relação entre os seres humanos e a imaterialidade, com respostas para todas as perguntas e indagações dos indivíduos, sem dogmas, adorações, cultos externos e uma grande dose de racionalidade, reflexão e conhecimento para levar os seres humanos a compreenderem as bases que sustentam a sociedade.

Nas revelações da Doutrina Espírita, a sociedade passou a compreender que somos todos médiuns, todos nós sentimos a influência, uns mais e outros menos, de entidades e espíritos desencarnados e que estes podem nos influenciar nas nossas decisões cotidianas, nos nossos sentimentos e até mesmo em nossos pensamentos, desde que estejamos abertos e sintonizados a estas entidades espirituais.

Na relação existente entre os dois planos da vida, somos todos os momentos bombardeados por sentimentos e pensamentos oriundos de amigos ou inimigos espirituais, se estamos sintonizados com os bons espíritos, sentimos as suas influências em nossas vidas, sentimo-nos mais calmos, mais equilibrados e serenos e, com isso, percebemos nossas vidas mais agradáveis e promissora.

Se abrimos espaço para os espíritos mais desequilibrados e momentaneamente dominados pelos vícios,  sentiremos sua completa influência, dominando-nos em nossos pensamentos e atraindo para nosso campo energético, energias mais pesadas, densas e desequilibradas e, com isso, perceberemos claramente nossos caminhos cotidianos mais desequilibrados e distante do progresso espiritual, ainda mais em uma sociedade marcada pela busca constante pelo hedonismo e pela acumulação material que muitas vezes cega as pessoas e atropelam os valores morais.

Encontramos neste embate um grande conflito entre o bem e o mal, um confronto existente dentro de todos os indivíduos, num momento cultivamos o bem e os bons pensamentos e colhemos equilíbrio e serenidade enquanto, em outros momentos, somos dominados por sentimentos menores, atraímos desequilíbrios generalizados e vivemos numa constante de desesperanças e desequilíbrios.

A Doutrina Espírita nos mostra que este embate existente entre o bem e o mal é algo individual e totalmente normal no atual estágio em que vivemos neste mundo físico e material, todos nós vivemos neste dualismo, não existe ninguém neste mundo que é somente bom e ninguém eminentemente mal, somos um misto de todos estes sentimentos difusos e generalizados, dominar os pensamentos negativos e cultivar os bons sentimentos é sinal do progresso e do crescimento espiritual.

Muitas pessoas criticam as teses da Doutrina dos Espíritos e acreditam que, como não conseguem enxergar e visualizar os espíritos no cotidiano, veem-na apenas como mais uma religião dogmática, castradora e conservadora, se não conseguem ver com seus próprios olhos desacreditam no potencial desta doutrina e a colocam no mesmo patamar de muitas outras correntes religiosas, denegrindo seus ensinamentos e contestando alguns de seus conceitos mais importantes, a mediunidade e a reencarnação.

A mediunidade nos foi trazida desde a antiguidade clássica, coube a revelação espírita desnudar o caráter dogmático deste conceito e nos trazer uma visão mais científica e filosófica, somos todos médiuns é uma das teses mais completas desnudada pelo Espiritismo, a mediunidade não se concentra apenas na visão, existem inúmeras mediunidades, desde a psicografia, a psicofonia, a oratória, dentre outras mais variadas formas de sentir a existência de um mundo novo e com potencial de grande explicação das estruturas que sustentam a sociedade.

Até meados do século passado, as comunicações dos espíritos eram mais intensas e ocorriam nos mais variados locais, com isso, era muito comum encontrarmos relatos de pessoas que viviam em sítios, fazendas e vilas rurais que viam e ouviam manifestações de espíritos, gerando medos e desequilíbrios generalizados, estes casos escassearam com o passar dos tempos por inúmeros motivos, dentre eles destacamos o crescimento da Doutrina Espírita e dos Centros Espíritas, nestes locais os bem feitores espirituais traziam espíritos para conversações variadas, além de instruções e conversas, desde as mais interessantes e empolgantes até as mais frívolas, fúteis e superficiais.

Destacamos ainda, uma mudança no perfil das comunicações entre o mundo material e o imaterial, depois de inúmeros fenômenos físicos, os espíritos superiores mudaram suas formas de comunicação, alteraram suas estratégias de trabalho, trazendo os espíritos para as conversas nas sessões mediúnicas, onde estes irmãos passavam a ter contato com médiuns psicofônicos, doutrinadores e passistas e, com isso, as conversas se davam de forma mais estruturada e produtiva, com auxílio e esclarecimento.

Muitas pessoas pedem para ver os fenômenos mediúnicos, dizem que podem até acreditar na existência desta comunicação entre os dois polos da vida, mas defendem que para acreditar e confiar nestes fenômenos do mundo espiritual, faz-se necessário fazer como Tomé, para estes indivíduos é necessário ver para crer, se não verem os fenômenos dificilmente estes irmãos irão acreditar nos fundamentos das conversas e das influências dos espíritos sobre os seres humanos.

Para estas indagações, os espíritos superiores dizem que todos terão os seus momentos íntimos de conversão, tudo tem seu tempo, defendem a tese de que cada pessoa terá seu momento de credulidade, como somos imortais e vivemos inúmeras vidas entre os dois mundos, no momento certo cada indivíduo vai perceber que, para compreender o mundo, faz-se necessário estudar Jesus Cristo e a Doutrina Espírita nos mostra os caminhos mais sólidos para compreender as mensagens e os ensinamentos deste grande exemplo para toda a humanidade.

Como somos todos médiuns, como nos mostra Allan Kardec, temos que ter consciência de que somos seres em constante influenciação tanto de espíritos bons como de irmãos que ora se comprazem com o mal, para que esta influência seja positiva e que nos traga progresso material e espiritual, temos que estar sempre vinculados ao bem e aos seres superiores criando, com isso, o mantra e a couraça necessárias para nos fortalecer e debelar os influências de espíritos.

Viver no bem, cultivar bons pensamentos e o hábito da oração são descritos como verdadeiros elixires contra irmãos negativos e que se comprazem com o mal e com a negatividade, esta fórmula é bem conhecida por todos os indivíduos e a sua execução se faz sempre difícil e exige das pessoas uma grande dose de perseverança, transformação e vivência cristã.

Outro ponto interessante a se destacar quando o assunto é mediunidade, muitas pessoas acreditam erroneamente que ser médium vidente, psicógrafo ou psicofônico é um grande dom, veem como se fossem escolhidos por Deus, muitos acreditam que, ao terem estas mediunidades, são pessoas diferenciadas e dotadas de grande poder espiritual. Todas estas mediunidades possibilitam auxiliar e contribuir para o crescimento individual e coletivo da coletividade, porém, faz-se necessário destacar que, sendo detentores destas mediunidades, todos estes indivíduos precisam se entregar ao trabalho como forma de reequilíbrio espiritual, pois se não o fizerem viverão perseguições espirituais cotidianas, muitos médiuns desinformados e desconhecedores destes “dons” mediúnicos vivem como verdadeiros párias de uma sociedade ignorante e  despreparada, onde muitos foram condenados a viver em manicômios e a serem cobaias de tratamentos violentos, como choques e descargas elétricas.

O médium é um verdadeiro para raio que atrai energias boas e ruins, ao adentrar em um local marcado por energias desequilibradas, atrai estas energias e, muitas vezes acaba gerando fortes constrangimentos físicos e emocionais, desajustes estes que na maioria das vezes reverbera para todos os seus familiares, gerando graves desequilíbrios em seus lares e em seus relacionamentos. Muitos querem ser médiuns para auxiliar os desvalidos e para trazer notícias boas e equilibradas, esquecem-se, de que, ao mesmo tempo que, como médiuns podem trazer mensagens boas e salutares podem, ser mensageiros de notícias negativas e desestruturantes.

A responsabilidade de ser médium é muito grande, embora todos tenhamos algum grau de mediunidade, o médium ostensivo tem grandes responsabilidades no cotidiano, sua conduta moral precisa estar sempre em evolução, os questionamentos existem e são salutares, mas estes não podem, em momento algum, levar aos questionamentos referentes ao trabalho e de sua crença na Doutrina e na vivência com Jesus.

Os inimigos espirituais estão presentes constantemente na vida das pessoas encarnadas, ao se aproximar ouvem nossos pensamentos e conhecem nossos comportamentos, com isso, conhecem nossas deficiências, nossas vontades e desejos mais íntimos e, quando se aproximam, podem ser descritos não como agressores, como muitas vezes o definimos, mas como convidados, afinal fomos nós que os chamamos e temos imenso prazer em tê-los ao nosso lado.

A mediunidade é uma grande benção de Deus para que consigamos vencer as nossas mais íntimas adversidades, somos dotados de grandes desequilíbrios acumulados em inúmeras encarnações, numas cometemos crimes indescritíveis e em outras fomos cruelmente massacrados por nossos irmãos de caminhada, carregamos todas estas experiências dentro de nossos perispíritos, muitas vezes nos acreditamos vítimas de injustiças e nos colocamos como injustiçados, na verdade não existem vítimas no mundo, o que existem são seres humanos imperfeitos e cheios de desequilíbrios que caminham lado a lado em busca de um lenitivo de amor e de esperança, demoramos muitos anos, séculos e milênios mas, em algum momento, vamos compreender que mesmo sendo longo o caminho e difícil a caminhada, esta é a única forma de nos melhorarmos e progredirmos em prol de uma sociedade melhor e mais harmoniosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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