A Quarta Revolução Industrial: oportunidades e desafios para o Brasil

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A sociedade mundial passa por momentos de excitação e grande apreensão em decorrências das inúmeras transformações que a estrutura produtiva e as cadeias globais de produção estão passando nas últimas décadas, gerando novas oportunidades de negócios e de emprego, além de muitas incertezas e instabilidades, levando o indivíduo a patologias físicas, sociais e emocionais, neste ambiente a depressão se tornou uma realidade para quase 5% da população mundial, a ansiedade, os transtornos, a obesidade e as síndromes se espalham por todas as regiões e colocam os profissionais da saúde desafios imensos e imediatos.

Inúmeras são as transformações em curso na sociedade, desde comportamentos sociais, medos urbanos, mudanças nos relacionamentos, questões de gêneros, lutas por poder e dominação, ou seja, são muitos e variados, muitos deles existem na sociedade desde os primórdios da humanidade e outros são novos e desafiadores, sentidos fortemente pelos indivíduos, mas pouco compreendidos em sua totalidade, dentre os desafios, gostaríamos de destacar alguns deles gerados pela Quarta Revolução Industrial em curso, seus impactos sobre as empresas, sobre os empregos, sobre os indivíduos e sobre toda a coletividade nacional e internacional, isto porque é importante que destaquemos que estes desafios são de toda a civilização mundial.

Nesta nova sociedade global, alguns dados nos impressionam e nos geram grandes preocupações, segundo a Lei de Moore, a cada dezoitos meses a capacidade de armazenamento dos chips dobram, um tablet tem a capacidade de processamento equivalente a 5 mil computadores de trinta anos atrás, o custo anual de armazenamento de 1GB de dados a 20 anos era de US$ 10 mil, hoje, de menos de US$ 0,03; um floco de grafeno de 1 µm custava em 2014 US$ 1.000, hoje os valores se reduziram imensamente, abrindo novos espaços para negócios e novas oportunidades de investimentos, com potencial revolucionário, semelhante ao do plástico e do silício.

Outro dado que nos chama muito a atenção neste novo momento da estrutura produtiva internacional é que, as grandes indústrias do mundo que dominaram a sociedade mundial desde o início do século XX, perderam espaço para as empresas de tecnologia, que hoje são as grandes responsáveis por grande parte destas mudanças. Em 1990, na cidade de Detroit, nos Estados Unidos, as três grandes montadoras apresentavam valor de mercado de US$ 36 bilhões, vendas de US$250 bilhões e 1,2 milhão de empregados; na atualidade, o grande polo de desenvolvimento norte americano é o Vale do Silício, onde as três maiores empresas possuem US$1,03 trilhão de valor de mercado, vendas de US$247 bilhões e 137 mil empregados, ou seja, estas mudanças estão alterando imensamente toda a estrutura de poder das empresas internacionais, destacando ainda que, de todas as grandes empresas de tecnologia do mundo, a grande maioria são as norte-americanas.

Neste percurso de grandes transformações econômicas, percebemos que as grandes transformações do mundo foram impulsionadas pelos desenvolvimentos tecnológicos, que trouxeram grandes ganhos para a comunidade internacional, mas suscitaram também grandes desafios de adaptação dos indivíduos, exigindo flexibilidades e agilidades que, na atualidade, são fenômenos normais e fundamentais, obrigando-nos a sairmos da zona de conforto e nos habilitarmos à busca pelo conhecimento, ao incremento do estudo e por habilidades que muitas vezes desconhecíamos que as possuíamos. A Primeira Revolução Industrial ocorre na Europa no século XVIII, onde a máquina a vapor, a tecelagem, a siderurgia, as ferrovias, os navios a vapor, além dos setores de bens de capitais, tudo isso impulsionou o processo de urbanização, o trabalho assalariado e contribuiu para o crescimento do mercado mundial.

A segunda grande transformação industrial ocorreu, também na Europa, no período entre 1870 e 1970, neste período, os setores mais dinâmicos deste processo foram: eletricidade, motores de explosão interna, telégrafo, telefonia, linha de montagem, surgem os embriões do que seria mais tarde o modelo Fordista de produção, baseado no consumo de massa, na especialização, no grande contingente de funcionários, na produção em série, etc.

O século XIX trouxe grandes mudanças nas estruturas produtivas, a especialização do trabalhador e os vultosos investimentos em Ciência, pesquisa e inovação, foram fundamentais para que o século ficassem na história da humanidade como um dos momentos mais dinâmicos e progressivos, não apenas no campo do desenvolvimento científico, mas também no campo das ideias, da filosofia e com isso, contribuíram para o surgimento de novas Ciências, tais como a Sociologia, que passa a investigar a relação entre os seres humanos, dos grupos sociais e da sociedade.

Nos anos 1970 surge uma nova estrutura científica e tecnológica que passa a impulsionar novas formas de organização social e política, este período ficou conhecido como Terceira Revolução Industrial, motivada pelo avanço das tecnologias ligadas à informática e as comunicações, surgindo desta união a rede mundial dos computadores, a internet, destacando ainda, semicondutores, mainframes, PCs, automatização da linha de montagem, Globalização, padronização de padrões de consumo, cadeias produtivas globais, etc.

Estas transformações impactaram imensamente sobre os indivíduos, o desenvolvimento da internet aproximou muito as pessoas, intensificou os relacionamentos, criando nichos e grupos específicos com comportamentos, hábitos e costumes diferenciados, gerando alterações nas estruturas sociais, famílias, escolas, religião e, com isso, trazendo novos desafios para as pessoas, comunidades e grupos sociais.

Se observarmos atentamente estas mudanças em curso na sociedade desde a primeira revolução industrial, vamos perceber que, de uma para outra, as mudanças são cada vez mais rápidas, intensas e aceleradas, com isso, os indivíduos não conseguem acompanhar tais mudanças e passam a se assustar com a velocidade e as instabilidades e incertezas das transformações, gerando patologias sociais e emocionais nos trabalhadores, principalmente naqueles dotados apenas de força física e material, com baixa qualificação, sem estudo e sem perspectivas maiores.

O século XXI está nos trazendo novas mudanças na estrutura produtiva, as cadeias globais de produção se espalham por todas as regiões do mundo, o comércio internacional movimenta mais de R$ 25 trilhões por ano, as economias estão cada vez mais integradas e interdependentes, a tecnologia desta nova revolução para muitos conhecida como Quarta Revolução Industrial ou Indústria 4.0, esta está alicerçada na onipresença da internet, na articulação de sistemas físicos e digitais, na computação quântica, na biotecnologia, na inteligência artificial, na internet das coisas, na internet nas nuvens, o resultado destas transformações ainda estão por ser estudados, mas as preocupações com seus impactos são intensos e preocupantes.

Esta Quarta Revolução Industrial é a responsável pelo surgimento de empresas e negócios revolucionários, onde destacamos Uber, AirBnB, WhatsApp, Wase, Netflix, todos estes empreendimentos seriam impossíveis de imaginar a uns 20 anos estão gerando grandes mudanças na sociedade, tudo isso só foi possível graças ao crescimento da internet e da facilidade das conexões, possível devido ao crescimento do mercados de smartphones, praticamente encontramos mais telefones celulares disponíveis do que pessoas no mundo contemporâneo.

Empresas como a Netflix estão alterando por completo um negócio que até então estava bastante acomodado, hoje as plataformas de streaming movimentam bilhões de dólares e exigem que seus concorrentes se transformem, ou melhor, que se reinventem completamente, não o fazendo serão engolidos pela tecnologia avassaladora que movimenta o mercado.

O Uber, aplicativos que liga carros particulares a pessoas que buscam se movimentar nos centros urbanos, vem criando graves constrangimentos para os motoristas de táxi e com governos e prefeituras, uns porque estão perdendo seu monopólio de transporte de pedestre e o outro porque, por esta nova plataforma, os governos perdem controle dos impostos e perdem arrecadação de tributos, inviabilizando muitos agentes públicos.

Devemos salientar ainda, que não se trata apenas de  mudar o “o quê“ e o “como” fazemos as coisas, mas também de definir “quem” somos, ou seja, o mundo digital que estamos mergulhados ou melhor, que estamos mergulhando, exige que os negócios, as empresas, as pessoas e a sociedade de uma forma geral, passe a perceber quem cada um é efetivamente na sociedade, isto passa a ser fundamental para o êxito de todo e qualquer negócio e empreendimento.

Quando analisamos detalhadamente estas transformações, destacamos que elas se sustentam em três grandes vetores por trás da Quarta Revolução Industrial: tecnologias físicas (veículos autônomos, impressão em 3D, robótica avançada, novos materiais e nanotecnologias), tecnologias digitais (inteligência artificial, internet das coisas, Blockchain, Bitcoin, Big Data, economia sob demanda e ampliação da capacidade de armazenamento de dados) e biotecnologias (sequenciamento genético, biomimetismo, ciência do cérebro, Biologia sintética por meio de manipulação do DNA, combinação de edição de genes e impressoras 3D).

A junção de todas estas tecnologia juntas está transformando a sociedade internacional, a pesquisa científica está transformando o século XXI no século da Biologia, inúmeras são as mudanças e os avanços que estão sendo liderados por esta área do conhecimento, desde o sequenciamento genético que, num futuro não muito distante, irá prever doenças e indicar tratamentos específicos individuais, as novas tecnologias de impressão 3D está dando, ao homem, a esperança de impressão de órgãos humanos, ou seja, com isso, o corpo humano poderá ser consertado como se faz na atualidade com os automóveis que, quando apresentam problemas, suas peças são substituídas por outras novas, uma transformação que os mais otimistas e adeptos da tecnologia jamais imaginou que seria possível.

No mundo dos negócios os impactos são variados, muitos mercados até então deveras protegido, estão se abrindo a uma competição global, onde empresas estrangeiras estão entrando, trazendo sua experiência e obrigando as locais a se adaptarem, melhorando a produtividade, reduzindo custos e otimizando processos, além disso, estão investindo cada vez mais em pesquisas nas áreas de marketing para descobrir e se antecipar as demandas e gostos dos consumidores que passam a exigir cada vez mais das empresas, obrigando os gestores a constantes treinamentos e qualificação e os trabalhadores a constantes mudanças, agilidades e flexibilidades.

Neste ambiente de constantes transformações, faz-se necessário, que os trabalhadores se qualifiquem cada vez mais, os diplomas, cursos, extensões, treinamentos estão em moda na sociedade, a qualificação é a mola para se adaptar aos novos modelos de organização dos mercados, aprender e desaprender são habilidades exigidas, proatividade, trabalho em grupo, resiliência, flexibilidade, equilíbrio emocional e uma constante capacidade de se reinventar são centrais nesta sociedade, além de uma alta dose de liderança e empreendedorismo.

Faz-se importante destacar, do ponto de vista político, que o Estado Nacional perde força constantemente, sua capacidade de tributação e controle interno se reduzem e, com isso, a contemporaneidade coloca em xeque a perpetuação deste agente central para a organização social, política e institucional, exigindo que a própria sociedade construa novos instrumentos de organização e estruturação dos agentes econômicos e sociais, este nos parece um dos maiores desafios do Estado nesta nova sociedade.

Dentro deste ambiente citado e analisado acima, como se encontra a sociedade brasileira, diante de tantas transformações? Será que estamos preparados para o mundo do trabalho que se está desenhando?  São inúmeras as perguntas que nos levam a reflexão e nos levam também ao medo, a insegurança e a instabilidades crescentes e ameaçadoras.

No caso brasileiro, percebemos que não mais contamos com o chamado bônus demográfico, estamos nos tornando um país de idosos, assim como os países desenvolvidos, o grande problema é que, enquanto os países europeus enriqueceram antes de  envelhecer o Brasil está envelhecendo sem ficar sem se desenvolver, ou seja, estamos ainda sendo chamado de países em desenvolvimento, uma nomenclatura que se alterou constantemente nos últimos cinquenta anos e, neste período, ainda continuamos subdesenvolvidos.

Com relação a mão de obra brasileira, encontramos aí um outro grande gargalo, nossa força de trabalho apresenta baixíssima produtividade, isto acontece e se perpetua porque ainda não resolvemos problemas centrais na nossa sociedade, temos uma estrutura tributária arcaica e regressiva, que pune os empreendedores e glorificam aqueles que sobrevivem através das benesses do Estado Nacional, sem reverter esta inconsistência, dificilmente vamos atingir o local que a população brasileira espera, um país digno, decente, sem pobreza e com grandes perspectivas de sucesso para as próximas gerações.

O mundo da Quarta Revolução Industrial nos impõe grandes desafios, o jeitinho brasileiro se mostrou ineficiente e limitado, o mundo não mais vai esperar o país acordar de berço esplêndido, estamos nos momentos de acordar para as duras realidades da vida, ou as encaramos de perto ou nos condenamos a ser o eterno país do futuro, um futuro cada vez mais distante e inalcançável.

Não conseguiremos alcançar os padrões dos países desenvolvidos enquanto não investirmos maciçamente na construção de cidadãos conscientes e responsáveis, se continuarmos produzindo em escala consumidores com baixos salários e sem visão política crítica e imediatista, o país continuará condenado a ser governado por governantes míopes dos  interesses coletivos e imensamente concentrado em seus interesses imediatos, estimulando o individualismo e se locupletando dos recursos amoedados da população.

O desenvolvimento tecnológico deve ser visto como um grande instrumento de diminuição das desigualdades sociais e políticas, depois de dominar a natureza e se utilizar dela para sua sobrevivência, o homem contemporâneo precisa desenvolver novas habilidades para construir uma sociedade global cada vez mais consistente, onde os frutos da riqueza social sejam distribuídos por todos e não fiquem concentrados nas mãos de uma pequena classe de privilegiados que, nos dias atuais, nem olham pela janela de suas casas e residências porque estas estão cercadas de grades, muros e câmeras por todos os lados e, principalmente, porque quando olham pelas janelas se deparam com a pobreza, a miséria e a indigência de seres humanos que estão reduzidos a uma condição de inferioridade e exclusão social.

Como destacou Franklin D. Roosevelt: “O teste de nosso progresso não é se agregamos mais à abundância daqueles que têm muito, mas se fornecemos o suficiente para aqueles que têm pouco”. Se analisarmos bem as palavras acima, vamos perceber que estamos muito distantes desta realidade, estamos acrescentando mais e mais aos que tem muito e deixando de lado aqueles que pouco possuem, a tecnologia deve contribuir para o incremento da felicidade humana e não tornar os seres humanos escravos da tecnologia e do lucro desenfreado, só assim vamos construir uma felicidade verdadeira alicerçado na solidez dos valores universais de ética, moral e prosperidade.

Grupo de Estudo – Sociedade em transformação: os impactos da     Tecnologia sobre o trabalhador, o emprego e o mundo do trabalho. Faculdade de Tecnologia de Catanduva – FatCat.

Coordenação Professor Dr. Ary Ramos da Silva Júnior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ary Ramos
Ary Ramos
Doutor em Sociologia (Unesp)

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